Ébola: Especialistas advertem que surtos virais podem tornar-se frequentes 334

Ébola: Especialistas advertem que surtos virais podem tornar-se frequentes

18 de Agosto de 2014

O vírus Ébola, como a gripe espanhola, a poliomielite, a sida e a síndroma respiratória aguda severa (SARS), surgiu inesperadamente a ceifar vidas e a gerar receios de um surto global, enquanto especialistas advertem que tais surtos podem tornar-se frequentes.
 
Alguns especialistas dizem que é improvável a epidemia de Ébola que atinge a África ocidental tornar-se global, mas advertem que os surtos virais acontecerão cada vez mais no futuro e irão expor mais pessoas a novas e estranhas patogenias, que serão levadas para casa e espalhadas pelas cidades populosas.

«Novas doenças virais estão em ascensão, enquanto as populações se tornam mais densas e móveis», disse Arnaud Fontanet, chefe da área de epidemiologia do Instituto Pasteur de França.

A perda de habitats com a deflorestação e as alterações climáticas, que forçam os animais portadores de doenças a ficarem mais próximos dos humanos, são também ingredientes para o surgimento de novas pandemias.

«Os surtos parecem estar cada vez mais frequentes», disse à agência francesa “AFP” o professor de virologia molecular Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

«Estamos a caminhar para um (surto) realmente grande? Não seria uma grande surpresa se uma outra (grande pandemia) estivesse a esperar para acontecer. Tudo o que podemos fazer é vigiar e estarmos preparados», disse Ball, citado pela “Lusa”.

Talvez mais do que outra em tempos recentes, a epidemia de SARS levantou o véu sobre o tipo de devastação global causado pela gripe espanhola, que entre 1918 e 1920 matou entre 50 a 100 milhões de pessoas.

A SARS matou 800 pessoas, sobretudo na Ásia, mas não antes de infetar pessoas em 40 países em semanas, causando pânico, que foi sentido no número de voos cancelados, nas escolas fechadas e na venda de máscaras cirúrgicas.

Outro vírus mais letal pode estar à espreita, ao virar da esquina, segundo especialistas.

«Há a possibilidade de mais infeções virais a emergirem devido ao aumento das populações em regiões do mundo onde os vírus estão, muitas vezes em morcegos ou macacos que são caçados para alimentação», disse o virologista John Oxford da Queen Mary University, de Londres.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) 154 novas doenças causadas por vírus foram descobertas entre 1940 e 2004, sendo dois terços destas transmitidas através de animais.

A OMS insiste que não há provas de que as epidemias são mais frequentes, mas há uma melhoria dos mecanismos de identificação de novas doenças.

Médicos Sem Fronteiras: Epidemia alastra mais rápido que capacidade de resposta

A epidemia do vírus Ébola na África ocidental «está a alastrar e (a situação) deteriora-se mais rapidamente do que a capacidade de resposta», advertiu na sexta-feira uma responsável da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Joanne Liu, diretora da MSF, falava após uma visita de dez dias à região.

«Estamos perante uma total falência das infraestruturas», disse Liu, considerando que «se a situação não for estabilizada na Libéria, nunca se estabilizará a região».
 
«Trata-se apenas da ponta do icebergue», advertiu a responsável da organização não-governamental (ONG) de prestação de cuidados médicos às pessoas contaminadas.

A MSF está presente nos três países mais afetados, Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa. A ONG tem no terreno um total de 692 pessoas, incluindo 72 estrangeiros.

Esta é a primeira vez que se identifica e confirma uma epidemia de Ébola na região da África Ocidental, até aqui sempre registadas na África Central.

ONU vai ajudar um milhão de pessoas nos países com Ébola

Um milhão de pessoas da Libéria, Serra Leoa e da Guiné-Conacri, vão ser abrangidas pelo Programa Alimentar Mundial da ONU para prevenir uma crise alimentar nos países onde existe a epidemia de Ébola.

«A pedido da OMS (Organização Mundial de Saúde) e dos governos em causa, operacionalizámos a assistência para cerca de um milhão de pessoas nas áreas que fazem parte do cordão sanitário de que fazem parte estes três países», disse à “AFP” Fabienne Pompeu, porta-voz do WFP na África Ocidental.

Organizações avisam Guiné-Bissau para o risco de propagação

Representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram a Guiné-Bissau: «estejam preparados» para a eventualidade de surgirem no país casos suspeitos de Ébola.

O facto de a epidemia estar concentrada no sul da Guiné-Conacri – do lado oposto à Guiné-Bissau – e as más acessibilidades à zona fronteiriça, especialmente na época das chuvas em que algumas passagens são alagadas entre junho e outubro, não deve servir de pretexto para baixar a guarda.

«É possível que alguns casos atravessem a fronteira e cheguem à Guiné-Bissau, por isso, mais vale que estejam preparados para detetar, isolar e tratar os doentes para evitar novos casos», recomendou Jerôme Mouton.

O chefe de missão dos MSF na Guiné-Conacri falou à agência “Lusa” na capital deste país onde a organização mantém um centro de tratamento de Ébola.

Jerôme recordou que um dos últimos casos mal despistado na capital deixou expostas 14 pessoas a um doente contagioso – seis profissionais de saúde e oito familiares que contraíram o vírus.

«Estejam preparados» é também o alerta de Nyka Alexander, porta-voz da OMS que depois de ter passado por outros palcos de urgência sanitária no mundo exerce funções em Conacri.

No centro de coordenação para o combate ao Ébola na sub-região (Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria), pede-se vigilância aos países vizinhos.

«A oito de agosto, quando a OMS declarou que esta é uma emergência de saúde pública de alcance mundial, houve um conjunto de recomendações para os países afetados e também para os países vizinhos», recordou Nyka.

Para esta representante, os Estados fronteiriços devem «verificar os planos de contingência, sistemas e centros de reação e mobilizar as pessoas».

Outra mensagem que a organização faz passar concentra-se na urgência de fazer a deteção precoce da doença: quem tiver sintomas deve procurar os serviços de saúde para fazer o despiste do Ébola o mais rápido possível.

Quanto antes o fizer e em caso de infeção, «mais possibilidade tem de sobreviver e de evitar o contágio de outras pessoas», concluiu a representante da OMS.

A Guiné Conacri, no epicentro da epidemia, declarou «emergência de saúde pública» e impôs controlos de fronteiras rígidos, enquanto os Estados Unidos ordenaram aos familiares dos diplomatas que abandonem a vizinha Serra Leoa, também afetada.

A Libéria e a Nigéria também registraram casos.

A Organização Mundial de Saúde diz que o surto de Ébola está a ser muito subestimado e que são necessárias medidas «extraordinárias» para conter a propagação do vírus.

América deve manter-se vigilante perante ameaça do vírus, alerta especialista

O continente americano deve manter-se vigilante perante a ameaça do Ébola, que já causou mais de mil mortes na África, alertou ontem o especialista da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Miguel Aragón.

A OPAS está a preparar os países americanos para uma eventual chegada do Ébola ao continente, explicou em entrevista à agência de notícias “EFE” Miguel Aragón, assessor da Vigilância Sanitária da OPAS em El Salvador.

«Não se pode baixar a guarda em nenhum momento, uma vez que a experiência que estão a viver aqueles países africanos é bem dramática e difícil. Creio que o mais importante é (os países) prepararem-se», defendeu.

Até sexta-feira, o Ébola já tinha provocado a morte a 1.145 pessoas, de um total de 2.127 contaminados, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que indicam que os países com população afetada são a Guiné Conacri, Serra Leoa, Libéria e Nigéria.

Miguel Aragón reconheceu que será «difícil evitar» que não chegue nenhum caso ao continente americano, insistindo por isso que «o importante é poder identificá-lo rapidamente e tomar todas as medidas de controlo para evitar a sua propagação».

A OPAS pediu aos países que estejam alerta e vigilantes, em especial nas zonas de entrada de pessoas, como aeroportos, fronteiras terrestres e portos marítimos.

O sistema sanitário de El Salvador já foi «posto à prova», com a chegada de dois oficiais da Forças Armadas que tinham estado na Libéria numa missão de paz das Nações Unidas.

Os dois militares, que chegaram na sexta-feira, aparentavam estar saudáveis mas ficaram de quarentena por 21 dias, que é o período máximo de incubação do vírus do ébola.

Aragón sublinhou que o ébola é uma «doença que exige muito dos serviços de saúde, porque a pessoa contagiada necessita de cuidados intensivos» e por isso é preciso ter um equipamento de proteção composto por «batas, impermeáveis, máscaras, que nem todos os serviços de saúde têm no momento».

O responsável disse contudo que a OPAS já está a tratar dessa falha, que se regista mais nas zonas rurais e suburbanas.

BAD prepara intervenção de 60 milhões de dólares nos países afetados pela epidemia

O Banco de Desenvolvimento Africano (BAD) está a preparar, em conjunto com os governos da África Ocidental afetados pela epidemia do vírus Ébola, intervir com uma ajuda de 60 milhões de dólares (55 milhões de euros).

Em declarações feitas durante a Cimeira dos chefes de Estado e membros do governo dos Estados Unidos – África, que se realizou na sexta-feira em Washigton, o presidente do BAD, Donald Kaberuka, disse que «o banco está pronto para apoiar os países da região para travar a progressão deste vírus mortal».

«Estamos de coração com os governos da África Ocidental na luta contra o vírus Ébola», disse o responsável, indicando que o BAD «está a preparar uma intervenção no montante de 60 milhões de dólares».

Este dinheiro será utilizado nos sistemas de saúde e da governação dos países afetados pela epidemia de Ébola com objetivo de reforçar as infraestruturas e formar pessoas na área da saúde.

«Trata-se de uma crise de saúde pública que ameaça desestabilizar toda a sub-região», sublinhou.

Homens armados atacam centro de isolamento na Libéria, 17 doentes em fuga

Homens armados atacaram na noite de sábado uma ala do centro de isolamento de doentes com Ébola em Monrovia, capital da Libéria, o que levou à fuga dos 17 doentes internados disse ontem uma testemunha.

Inicialmente, Rebecca Wesseh, uma das testemunhas citada por agências internacionais, disse que os homens armados «arrombaram as portas e saquearam o local» e que «os doentes fugiram todos», referindo 29 doentes.

Segundo o secretário-geral dos Trabalhadores da Saúde da Libéria, George Williams, o centro de isolamento recebia 29 doentes com Ébola, onde inicialmente eram tratados antes de serem transferidos para um hospital, mas especificou que «dos 29 doentes, 17 fugiram no sábado à noite [durante o assalto]. Nove estavam mortos há já quatro dias e três morreram no sábado».

«Outros três doentes que estiveram no centro tinham sido antes retirados à força pelos pais, desconhecendo-se o seu paradeiro», especificou o responsável.

«Os indivíduos, na sua maioria jovens, armados com paus, entraram à força na escola de um subúrbio de Monróvia onde funciona o centro de isolamento do Ébola», disse Rebecca Wesseh.

«O ataque provocou a fuga dos doentes e dos enfermeiros», disse a testemunha, adiantando que os atacantes gritaram palavras duras contra presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, que tinha garantido que no país não havia Ébola.

A escola tinha sido atacada recentemente. O estabelecimento de ensino tinha sido selecionado pelas autoridades sanitárias para isolar pessoas com sintomas da febre hemorrágica Ébola.

O bairro, onde está o centro de isolamento, é considerado como um dos epicentros da epidemia na capital da Libéria.

Alguns moradores disseram que opuseram à sua instalação.

«Nós dissemos para não instalarem o centro de isolamento do Ébola aqui. Mas os funcionários não nos ouvem. Eles têm de fazer um centro noutro lugar, mas eu não acredito», disse às agências internacionais um jovem morador local que não quis identificar-se.

Homem internado em Alicante não está infetado

As análises feitas ao homem, que foi colocado em isolamento num hospital especializado em Alicante, Espanha, com sintomas de poder ter Ébola, revelaram que este não está infetado com o vírus, avançou ontem a agência “EFE”.

A agência espanhola de notícias obteve a informação de fontes do Ministério da Saúde.

O homem, de origem nigeriana, apresentava os sintomas característicos da doença: febre alta, mal-estar, vómitos e hemorragias.

No entanto, os exames realizados confirmaram que não está infetado pelo vírus. As mesmas fontes precisaram que não serão feitas contra-análises, já que o homem não terá tido contacto com pessoas infetadas, citou a “Lusa”.

Este foi o primeiro caso suspeito da doença em Espanha, após a morte do missionário espanhol repatriado para Madrid a 7 de agosto.

Nenhum caso suspeito foi confirmado em Espanha.

Na Europa, os resultados das análises ao vírus Ébola de uma mulher detida num centro prisional escocês, que ficou doente e foi transferida para um hospital, foram negativos, anunciaram no sábado os serviços de saúde pública.
 

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