A Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH) lançou recentemente o Manual Consulta Farmacêutica, um recurso que pretende ser o primeiro passo para a unificação das melhores práticas na implementação da Consulta Farmacêutica nas instituições de saúde em Portugal.
A apresentação do novo referencial decorreu no dia 29 de março, em Lisboa, durante a segunda edição do Fórum APFH dedicado à Consulta Farmacêutica.
A criação do manual
Ao NETFARMA, a associação explica que “a elaboração deste manual surgiu da necessidade de padronizar, valorizar e reforçar a prática da consulta farmacêutica no contexto hospitalar em Portugal. Sabemos que consulta farmacêutica não é ainda, infelizmente, uma realidade em todos as instituições de saúde”.
Não obstante, “nos serviços hospitalares com consulta farmacêutica sabemos que esta é implementada e estruturada, na sua maioria, tendo por base diretrizes institucionais individuais”. Por isso, “a APFH pretendeu mitigar esta heterogeneidade criando orientações estruturadas , com práticas consistentes e orientadas por evidência”.
O principal objetivo deste manual é, por isso, como explica a associação, “fornecer um guia prático que apoie os farmacêuticos hospitalares na implementação ou consolidação da consulta farmacêutica na sua instituição. Com a criação deste manual pretendemos estruturar, uniformizar e qualificar a prática da consulta farmacêutica, respondendo à necessidade crescente de garantir cuidados de saúde efetivos, mais seguros e centrados no doente”.
Contribuir para a unificação das melhores práticas
O manual sistematiza o processo da consulta farmacêutica, desde a sua preparação até à sua monitorização, através de indicadores. “Ao apresentar definições, critérios de inclusão e exclusão, modelos de registo, indicadores e exemplos práticos, promove uma abordagem estruturada e replicável. Isto possibilita que diferentes instituições alinhem os seus procedimentos, reduzindo a variabilidade na prática e garantindo que os doentes, independentemente da instituição onde são acompanhados, tenham acesso ao mesmo nível de qualidade no serviço farmacêutico prestado”, refere a APFH, acrescentando que “este manual representa um compromisso com a qualidade e a equidade no acesso à consulta farmacêutica, possibilitando que todos os doentes, independentemente do hospital onde são acompanhados, beneficiem do mesmo modelo de boas práticas de consulta farmacêutica”.
A evolução da consulta farmacêutica
A prática da consulta farmacêutica tem vindo a desenvolver-se e “a ganhar relevância, gradualmente, ao longo das últimas décadas, todavia verifica-se alguma heterogeneidade entre instituições”, reitera a associação. Essa variabilidade está relacionada com variadíssimos fatores, como “a dimensão e os recursos dos hospitais, o número de farmacêuticos com diferenciação nesta área, o grau de envolvimento do farmacêutico nas equipas clínicas, e até a sensibilidade das lideranças para o reconhecimento das mais valias da consulta farmacêutica”.
Assim sendo, ainda de acordo com a APFH, “Enquanto alguns hospitais já têm consultas farmacêuticas bem estabelecidas e estruturadas, outros encontram-se numa fase mais embrionária, com intervenções pontuais ou mais informais”.
Deste modo, para a associação dos farmacêuticos hospitalares, este manual “pode ser uma ferramenta importante para mitigar esta heterogeneidade, uma vez que propõe uma base de trabalho comum que pode ser adaptada à realidade de cada hospital”.
Os desafios
A disponibilidade de recursos, quer humanos quer de espaço, “é a barreira mais frequentemente indicada. É imprescindível garantir um espaço adequado à consulta, que garanta a confidencialidade e a privacidade dos doentes, mas que também fomente o contacto próximo com os doentes”. além disso, ainda de acordo com a APFH, “aos farmacêuticos envolvidos na consulta exigem-se capacidades de comunicação e relacionamento interpessoal, para além dos conhecimentos técnico-científicos em cada área da Consulta”.
Assim sendo, a consulta farmacêutica pode tornar-se “numa ação muito complexa, que envolve diferentes estratégias, desde a reconciliação da terapêutica ao ensino ao doente. Esta complexidade pode condicionar os objetivos da consulta e mesmo a sua monitorização”.
Outro dos desafios é “a falta de acesso a informações importantes, relativas à saúde do doente e ao seu plano terapêutico, que pode por em causa todo o trabalho desenvolvido em contexto de Consulta Farmacêutica, comprometendo a segurança do doente”, acrescenta a associação.
Porém, com as orientações, “simples, para a implementação e organização da consulta farmacêutica
que podemos encontrar no manual, esperamos facilitar a sua estruturação e com isso permitir
uma otimização dos recursos e do esforço necessários quer à sua implementação, mas também
à sua manutenção”, indica a APFH, sublinhando que “a normalização das intervenções permite a realização de consultas eficazes, direcionadas para as necessidades específicas de cada doente, garantindo cuidados assistenciais adequados e ‘universais’”.
As recomendações para a implementação da consulta farmacêutica
Para quem está numa fase inicial, “o manual ajuda a estruturar a consulta e mesmo a preparar a sua organização, com sugestões que vão desde a forma de referenciação dos doentes até à intervenção farmacêutica propriamente dita e ao seu registo. Aborda também as questões básicas relativas aos recursos físicos e profissionais que a implementação da consulta implica”.
O manual contempla, assim, “diversas estratégias que podem ser usadas em contexto de Consulta Farmacêutica, que podem, ou não, ser usadas em simultâneo, de acordo com as necessidades dos doentes. Temos alguns detalhes de estratégias importantes, como é o caso da promoção e monitorização da adesão à terapêutica”.
A APFH destaca que ao longo de todo o manual “a comunicação com o doente foi assumida como um pilar fundamental da consulta, como forma de empoderamento do doente, o que contribui para a melhoria dos resultados em saúde”.
Por fim, o manual pretende, também, “contribuir para a estruturação de um plano eficaz de monitorização da consulta, que permita um acompanhamento contínuo e de qualidade. Pretendemos que a consulta não seja um ato isolado, mas sim um processo contínuo de cuidados, focado no doente”.
A expansão do papel do farmacêutico hospitalar para um modelo mais integrado nos cuidados de saúde
“Consideramos que esse é o caminho”, declara a associação, explicando que, e isso “já se tem vindo a sentir nas mudanças que vêm a acontecer, com o crescente reconhecimento da importância dos farmacêuticos na otimização do uso de medicamentos e na melhoria dos resultados clínicos. Com a evolução dos modelos de cuidados de saúde centrados no doente, os farmacêuticos podem desempenhar um papel fundamental na definição dos planos terapêuticos, considerando as necessidades de cada doente e o seu tratamento”.
Neste âmbito, ainda segundo a APFH, “o farmacêutico pode desempenhar um papel fundamental na monitorização de reações adversas, na avaliação de potenciais interações e na promoção e avaliação da adesão à terapêutica, melhorando, assim, os resultados clínicos. Isto pode ser ainda mais importante devido ao aumento da complexidade dos tratamentos em diversas áreas”.
Neste contexto, “a formação de equipas multidisciplinares na atual organização do SNS em Unidades Locais de Saúde, permite que o farmacêutico hospitalar trabalhe de forma mais colaborativa, tendo um papel ativo no cuidado ao doente“.
Porém, para que essa expansão aconteça de forma eficaz, a APFH defende que “serão necessários investimentos contínuos, mudanças nas políticas de saúde e maior valorização do papel do farmacêutico nas equipas de saúde. Essa integração mais profunda é um passo importante para garantir que os sistemas de saúde possam lidar com os desafios futuros, que estão já aí”.
Pode aceder ao manual aqui.




