43.ª edição da RACI – Reunião Anual do Colégio de Indústria 2025
Nos dias 3, 4 e 5 de outubro de 2025, Tróia foi palco da Reunião Anual do Colégio de Especialidade de Indústria Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos (RACI 2025).
Sob o tema “The future-proof Industrial Pharmacist: thinking ahead & ready to act”, a iniciativa reuniu farmacêuticos de indústria, representantes de empresas da área, especialistas nacionais e internacionais e reguladores, num programa marcado pela diversidade temática e pela pertinência dos debates face aos desafios atuais e futuros do setor.
A sessão de abertura contou com o Presidente do Conselho do Colégio de Especialidade em Indústria Farmacêutica, Dr. José Vera-Cruz. Na sua mensagem, para além de sublinhar algumas das iniciativas já levadas a cabo pelo CCEIF desde a sua tomada de posse em março 2025, destacou os trabalhos de revisão e atualização de normas e diretivas, quer a nível nacional, quer europeu, com impacto direto na atividade da indústria farmacêutica. No seu discurso, o Presidente do CCEIF realçou a importância dos farmacêuticos de indústria estarem preparados para enfrentar os novos desafios como a sustentabilidade ambiental dos processos produtivos, a adaptação às novas tecnologias, a transição digital, os modelos de produção flexível, a regulamentação internacional e os novos paradigmas das organizações, de modo a poderem continuar a proteger e a melhorar a vida das pessoas.
Primeiro dia
O arranque dos trabalhos foi dedicado à Inteligência Artificial (IA) e ao seu impacto nos ambientes regulados. Especialistas nacionais e internacionais apresentaram casos práticos e discutiram a forma como estas tecnologias estão a transformar os processos de fabrico, controlo de qualidade e gestão de dados. De facto, com a ajuda de oradores brilhantes, foi possível desmistificar conceitos, reconhecer riscos e, sobretudo, explorar as oportunidades que a IA já está a trazer à Indústria Farmacêutica.
Ficou ainda claro que as autoridades reguladoras estão, neste momento, atentas e ativas nestas temáticas, preparando normas, atualizando diretrizes, criando condições para que a IA seja integrada com responsabilidade na Indústria Farmacêutica.
Abordaram-se conceitos como “a mãe” da IA, FAIR data, e desmistificou-se a ideia da “black box”.
Houve espaço ainda para ser deixado o alerta: a IA não é uma moda. Não é o futuro. É o presente, pelo que tem de ser utilizada com critério e validação, para que os filmes que existem sobre IA continuem a ser apenas “ficção científica” e não “premonições”.
O primeiro dia terminou com um painel sobre pensamento crítico, enviesamentos e decisões em grupo. Um lembrete precioso de que, para se adotar a condição “ready to act”, é necessário estarmos conscientes dos nossos próprios filtros, vieses e limitações.
O dia terminou ao som de saxofone, num jantar memorável, na Pousada de Alcácer, onde os colegas com 10 e 25 anos de especialidade foram homenageados num momento solene, repleto de emoção, orgulho e pertença.
Segundo dia
O segundo dia iniciou-se com uma atividade física ao nascer do sol, que reuniu participantes em torno de uma caminhada pelo ambiente natural de Tróia, reforçando a vertente de convívio e partilha.
Os trabalhos tiveram início com uma verdadeira aula sobre o papel do QP na gestão da cadeia de fabrico, com reflexões profundas sobre como exercer essa responsabilidade em contextos cada vez mais complexos e diversificados. No painel “Building Trust Across Borders”, abordaram-se, de forma prática, o “How to” da ICH Q7, “Q&A third-party oversight”e “QP declaration: from audit to approval”.
O painel “Offstage Operations” trouxe para o centro da discussão áreas frequentemente menos visíveis, mas de grande relevância, como os radiofármacos, a canábis medicinal, os gases medicinais e os cosméticos. Cada um destes setores apresenta especificidades técnicas e regulatórias, reforçando a versatilidade, a responsabilidade acrescida do farmacêutico e os respetivos desafios, onde o farmacêutico dá provas concretas, destacando-se como peça central e fundamental na tomada de decisão. , .
Seguiu-seo painel “Forward Looking”, onde a aplicação prática de IA e digitalização na indústria farmacêutica, não como teoria, mas como realidade operacional, a acontecer agora, foi demonstrada com a apresentação de um caso prático de uma fábrica digital, evidenciando as vantagens de um sistema MES (Manufacturing Execution System). Foi também efetuada uma apresentação sobre os desafios e novas tendências na formulação de pellets, dando também a conhecer como as suas versatilidades de aplicação podem responder a necessidades durante o desenvolvimento farmacêutico.
O 2º dia de trabalhos encerrou com o painel “Keeping with the News”, com uma mesa-redonda sobre alguns dos temas mais prementes e controversos da atualidade: como o caso do dióxido de titânio e dos PFAS , as diretrizes ICH Q2 e ICH Q14 e os seus desafios de implementação no desenvolvimento e atualização de métodos analíticos. Discutiram-se as novas exigências relativas a excipientes e impurezas, e o impacto real destas restrições, na sustentabilidade ambiental e, em particular, dos processos na indústria farmacêutica.
Num momento de lazer, logo após o encerramento das atividades do segundo dia, os participantes tiveram oportunidade de ter uma aula de golfe, organizada no Troia Golf.
O dia terminou com um jantar de convívio entre todos os participantes, onde não faltou animação com um grupo de Cante.
Terceiro dia
O último dia da reunião foi dedicado ao tema “The Art of Unscripted Decisions”, centrado na capacidade de resposta a situações inesperadas, destacando a importância da preparação, da agilidade e da adaptabilidade no exercício profissional. Assim, com a dinâmica liderada pelo grupo “Os Improváveis”, os participantes tiveram oportunidade de aprender a improvisar, a reagir, a decidir rapidamente com segurança e confiança. A contribuição de um “Sim, e…” em vez de um “Não, mas…” ficou clara para gerar soluções mais eficientes e rápidas no dia-a-dia.
Foi ainda apresentado o Prémio de Melhor Póster da RACI 2025, atribuído ao trabalho “Do Presente ao Futuro: O Potencial da Automação e da Inteligência Artificial como Ferramentas Estratégicas para a Garantia da Qualidade”, da equipa da Bluepharma. A distinção sublinhou o dinamismo e a inovação que caracterizam a investigação desenvolvida em Portugal na área da Indústria Farmacêutica, selecionado entre 11 pósteres a concurso, enfatizando o trabalho desenvolvido nas empresas.
Na sessão de encerramento, o bastonário Professor Doutor Hélder Mota Filipe e o presidente do CCEIF, Dr. José Vera-Cruz, reforçaram a mensagem que atravessou toda a reunião: a inovação tecnológica deve caminhar lado a lado com o rigor científico, a ética profissional e a responsabilidade social. O farmacêutico de Indústria é chamado a assumir responsabilidades e, parafraseando o discurso de encerramento: “Assumir a responsabilidade é ter o conhecimento, a experiência, e estar consciente do impacto da decisão tomada.”
Conclusão
A RACI 2025 consolidou-se, uma vez mais, como um espaço de excelência para o debate, a atualização científica e a construção de sinergias entre os profissionais do setor. Ao longo de três dias, em Tróia, discutiram-se tendências emergentes, partilharam-se boas práticas e projetaram-se caminhos futuros. Entre um programa técnico-científico diversificado e atual, a oportunidade de networking e de momentos mais lúdicos e desportivos, não ficaram de fora, com oportunidade para rever atuais e antigos colegas, amigos, parceiros, num ambiente colaborativo e descontraído.
Mais do que um encontro científico, a reunião foi um momento de afirmação do compromisso da Ordem dos Farmacêuticos e do Colégio de Indústria Farmacêutica com a valorização contínua da profissão e com a defesa de uma indústria farmacêutica forte e ao serviço da comunidade.
Conselho do Colégio de Especialidade de Indústria Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos




