Tratamentos da hepatite C iniciados em 2020 e 2021 caíram mais de 40%, mostra relatório 488

O número de tratamentos da hepatite C iniciados em 2020 e 2021 caiu mais de 40% em Portugal, uma redução que pode ser atribuída à pandemia de covid-19, alerta o relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV) divulgado esta quinta-feira.

“Da avaliação da evolução do número de tratamentos por ano, destaca-se uma redução superior a 40% no número de tratamentos iniciados nos anos 2020 e 2021, podendo refletir o impacto da pandemia de covid-19”, adianta o documento de 2022 do PNHV, um dos programas de saúde prioritários da Direção-Geral da Saúde, citado pela Lusa. O relatório, que é apresentado esta quinta-feira, Dia Mundial das Hepatites Virais, salienta, porém, o aumento do número de testes de anticorpo anti-VHC [vírus da hepatite C] realizados em 2021, traduzindo “já uma retoma da atividade, apesar das segunda e terceira vagas da pandemia”.

“Ainda assim, da avaliação pelo grau de fibrose, 43% dos doentes apresentava uma fibrose avançada previamente ao início de tratamento, valor inferior ao verificado nos primeiros dois anos após disponibilização dos novos antivirais de ação direta (AAD)”, alertou o documento. O PNHV considera este um valor elevado, particularmente a percentagem de cirrose, o que leva a “pensar que ainda existe um número importante de doentes em risco elevado de carcinoma hepatocelular”.

Em 2015, Portugal adotou a estratégia de tratar com AAD todas as pessoas infetadas pelo vírus da hepatite C, independentemente do estadio da doença, assumindo-se como “um dos primeiros países, a nível europeu e mundial, a implementar esta medida conducente à eliminação da hepatite C até 2030”, recorda o PNHV. “Quando se restringe a análise ao universo de indivíduos que já concluíram o tratamento e em que se pode avaliar a resposta virológica sustentada, verifica-se que 18.074 estão curados (96,7%), sublinha o PNHV.

Em 20% dos doentes, a hepatite C crónica pode conduzir à cirrose e ou ao cancro no fígado. O documento refere ainda que o número de tumores malignos do fígado mostra uma evolução crescente, entre 2002 e 2019, de 260 para 599 para o carcinoma de células hepáticas e de 120 e 469 para o tumor das vias biliares intra-hepáticas. Em 2020, morreram quase três mil pessoas por doença hepática e das vias biliares.

As hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes por ano, ultrapassando a causada por outras doenças infecciosas, incluindo a infeção pelo VIH (680.000), a malária (627.000) e em paralelo com a tuberculose (1,4 milhões).