
No início de Outubro, a empresa tecnológica NVIDIA ultrapassou toda a indústria farmacêutica em valor de mercado, atingindo um impressionante valor de 4,6 mil milhões dólares, mais do que o valor combinado de gigantes farmacêuticos globais como Pfizer, Johnson & Johnson e Eli Lilly. Se este valor advém de uma bolha de AI ou de potencial de impacto real, fica para discutir numa outra oportunidade. Mas aproveitando a onda de comparações, acredito que de facto existem algumas questões que os profissionais a trabalhar na Indústria Farmacêutica podem aprender com a área tecnológica.
Com formação de base em Bioengenharia e a trabalhar na interseção entre Tecnologia e Saúde, particularmente na aplicação de Inteligência Artificial no desenvolvimento de novos medicamentos, tenho experienciado de perto a cultura, liderança e capacidade de retenção de talento (ou não) no setor Tecnológicos. Por outro lado, através da organização de cursos de formação executiva na GenH, tenho contacto direto com inúmeros profissionais e líderes da Indústria Farmacêutica, e tenho percebido as grandes diferenças entre estes setores. Hoje, quero partilhar algumas das aprendizagens que acho que seriam interessantes refletir.
No mundo da tecnologia, a liderança tende a ser informal e próxima. Os líderes partilham os seus sucessos e falhas, falam sobre decisões difíceis, trade-offs pessoais e os valores que orientam as suas escolhas. É raro ver alguém de fato e gravata no escritório, e qualquer pessoa da empresa está à distância de uma mensagem de slack (ou Teams). Esta proximidade cria uma cultura de escuta ativa e valorização da opinião de todos, independentemente do cargo ou senioridade, e os trabalhadores percebem não só o que é decidido, mas também como e porquê. Essa abertura gera agilidade, envolvimento, e motivação para dar o extra todos os dias.
Na indústria farmacêutica, a liderança mantém-se muitas vezes hierárquica e formal, com uma distância significativa entre líderes e posições juniores. Em muitas empresas, os bastidores da liderança permanecem invisíveis, tornando a experiência de carreira mais distante e menos motivadora, sobretudo para talentos jovens.
Apesar disso, sei que existem exceções. Tenho o prazer de conhecer vários líderes na indústria que demonstram uma liderança próxima, semelhante à observada no mundo tech. Um exemplo que conheci recentemente é o Sérgio Alves, Diretor de Operações da Ascendis Pharma, que no curso Pharma Career Accelerator da GenH partilhou abertamente a sua trajetória, os erros que cometeu, os trade-offs entre vida pessoal e carreira e as escolhas difíceis que teve de tomar. Este tipo de liderança inspira confiança, aproxima as pessoas e cria uma sensação de pertença que reforça a retenção e o desenvolvimento de talento.
Acredito que o desafio de retenção de talento torna-se ainda mais gritante num momento em que a indústria farmacêutica está a entrar de forma significativa na área digital e tecnológica, competindo diretamente com grandes empresas de tecnologia pela atração de talentos com competências digitais. Neste contexto, a liderança próxima, transparente e autêntica deixa de ser apenas uma boa prática: torna-se um diferencial competitivo para atração de talento de qualidade. Líderes que mostram vulnerabilidade, que partilham a própria história e que envolvem ativamente as suas equipas conseguem criar culturas mais resilientes, ágeis e capazes de inovar.
O Global Pharma 4, cuja nova edição arranca no início do próximo ano, procura precisamente reunir os líderes que já estão a abrir caminho a um novo tipo de liderança nas empresas farmacêuticas. Ao criar espaços para ouvir, aprender e partilhar experiências reais, aceleramos uma cultura diferente no setor. A indústria farmacêutica está a mudar, mas essa transformação precisa de escala, e dar visibilidade a quem lidera com autenticidade é essencial para que se torne estrutural.
Maria Loureiro
Business Project Manager da GenH




