O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) lamentou que, quase dois meses depois, a unidade local de saúde (ULS) Santa Maria ainda não tenha esclarecido o caso do dermatologista que terá recebido milhares de euros por trabalho adicional.
“Até ao dia de hoje, a Ordem dos Médicos não tem ainda qualquer tipo de esclarecimento sobre aquilo que aconteceu. Tivemos o afastamento surpreendente e de forma muito clara do diretor clínico e agora também tivemos uma demissão de um diretor de serviço”, disse Carlos Cortes, citado pela Lusa.
O bastonário tinha pedido esclarecimentos, em maio, à ULS Santa Maria sobre o caso do dermatologista que recebeu alegadamente 51 mil euros em apenas um dia de trabalho.
Em declarações ontem aos jornalistas após se reunir com os diretores clínicos da ULS Santa Maria, Rui Tato Marinho e Eunice Carrapiço, o responsável disse que a OM está a estabelecer um conjunto de contactos com vários médicos e entidades para tentar “perceber aquilo que está a acontecer” na unidade hospitalar.
“Hoje estivemos reunidos com os dois diretores clínicos da ULS [Santa Maria]. Na próxima quinta-feira estarei no Hospital [Santa Maria], numa reunião com os médicos do serviço de Dermatologia”, disse Carlos Cortes. O encontro será de manhã, mas ainda sem hora definida.
Aos jornalistas, na sede da OM, em Lisboa, o bastonário adiantou que será feito um relatório com tudo aquilo que teme sido comunicado à entidade, demonstrando preocupação com a gestão do Hospital Santa Maria (Lisboa).
“Há aqui uma preocupação da OM sobre esta matéria e que vai levar a que seja feito um relatório sobre estes contactos que foram estabelecidos. Esse relatório será enviado para o Conselho de Administração, ou para aquilo que é agora o Conselho de Administração, não sabemos muito bem, da ULS Santa Maria, para a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde e para a ministra da Saúde”, disse.
OM não está esclarecida com afastamento de diretor do Santa Maria
“Eu não posso ter ficado mais esclarecido, porque penso que Rui Tato Marinho também não está esclarecido sobre a sua situação, inclusive ontem [segunda-feira], publicamente transmitiu que estava à espera de esclarecimentos. O próprio bastonário da OM também não ficou esclarecido”, disse Carlos Cortes.
Na segunda-feira, Rui Tato Marinho afirmou que iria continuar a desempenhar o cargo, desconhecendo que esteja a decorrer um procedimento legal para a sua substituição, depois de na semana passada a administração da unidade de saúde, presidida por Carlos Martins, ter anunciado alterações na sua composição, que passariam pela saída do diretor clínico.
Segundo a ULS Santa Maria, as alterações passariam pela saída da diretora clínica, Eunice Carrapiço, para os cuidados de saúde primários.
Carlos Cortes lembrou que Rui Tato Marinho “não vai continuar no Conselho de Administração” do Hospital Santa Maria.
“Nós estamos a falar do hospital mais importante do país, do diretor clínico do hospital mais importante do país, portanto, acho que há aqui uma obrigação, do ponto de vista também daquela que é a responsabilidade ética do Conselho de Administração da ULS Santa Maria explicar ao país aquilo que aconteceu”, acrescentou.
A demissão do diretor de serviço de Ortopedia
“A OM está preocupada com aquilo que está a acontecer no Hospital Santa Maria. Não deveria acontecer. Tentei recolher alguns elementos junto do diretor clínico sobre a questão da ortopedia, não obtive, não fiquei satisfeito, porque há mais aspetos que devem ser esclarecidos e irei entrar em contacto, assim que puder, com o diretor de serviço de Ortopedia”, salientou.
O diretor do serviço de Ortopedia do Hospital Santa Maria demitiu-se, confirmou à Lusa a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que classificou a demissão como “mais um grito de alerta” para o esgotamento dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Em declarações à Lusa a propósito da demissão do diretor do serviço de Ortopedia do Santa Maria – noticiada inicialmente pela Sic Noticias -, a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, lembrou que esta decisão se seguiu à apresentação de escusas às horas extraordinárias por parte de 12 ortopedistas do mesmo hospital.
Diretor de ortopedia de Santa Maria demite-se num “grito de alerta”
O bastonário disse que motivo principal da demissão do diretor do serviço de Ortopedia tem a ver com a “falta de recursos médicos para assegurar o serviço de urgência e a atividade normal”.
“Neste momento ainda não sei exatamente o que é que levou efetivamente a essa demissão, porque, em muitos serviços, infelizmente, há uma falta de recursos humanos, há muita falta de médicos em muitos serviços do país. Mas teve de haver, do meu ponto de vista, algo mais para motivar esta demissão. Resta saber se o serviço da ortopedia teve o apoio necessário para poder contratar os médicos que necessitava”, realçou.




