Dia Mundial da Osteoporose (20 de outubro)
Quando se trata de osteoporose, são ainda muitos os mitos que persistem e os conceitos errados, verdadeiras barreiras à prevenção e ao diagnóstico precoce. Muitos continuam a acreditar que esta doença é uma consequência natural e inevitável do envelhecimento, quando tal não corresponde à realidade; outros pensam que a osteoporose afeta apenas as mulheres, ignorando que também os homens são impactados, ou que apenas os ossos de pessoas idosas são vulneráveis. Esta falta de informação e conhecimento é algo que as farmácias podem, de forma simples e eficaz, ajudar a combater.
Sendo um ponto de contacto privilegiado com a população, as farmácias comunitárias representam também um canal de comunicação credível para desmistificar ideias erradas sobre a osteoporose. Através de campanhas de sensibilização, como as que se realizam no âmbito do Dia Mundial da Osteoporose, e de materiais educativos baseados na mais recente evidência científica, os farmacêuticos podem esclarecer que a osteoporose não é uma consequência inevitável do envelhecimento, podendo ser prevenida e tratada. Podem igualmente reforçar que a doença afeta também homens e pessoas mais jovens com fatores de risco específicos, corrigir falsas crenças sobre o uso de suplementos de cálcio e vitamina D, e divulgar informação sobre tratamentos eficazes e seguros, sublinhando sempre a importância da adesão terapêutica.
Esta intervenção pode concretizar-se não só através de campanhas, mas também de sessões educativas e conversas individuais, que permitem personalizar a mensagem, aumentar a literacia em saúde óssea e promover mudanças comportamentais sustentadas.
Mas o papel do farmacêutico comunitário vai muito além da sensibilização quando se trata da prevenção e do diagnóstico precoce da osteoporose. A sua posição privilegiada de proximidade e acessibilidade à população torna-o num agente incontornável na promoção da saúde óssea.
No âmbito da prevenção primária, pode identificar fatores de risco modificáveis, como o sedentarismo, défices de cálcio e vitamina D, tabagismo, consumo excessivo de álcool ou uso prolongado de determinados medicamentos. Tem ainda um papel ativo na educação e no apoio à adoção de estilos de vida saudáveis: incentiva a prática regular de exercício físico com impacto positivo na massa óssea – como caminhadas, treino de resistência e exercícios de equilíbrio –, promove uma alimentação equilibrada e rica em cálcio, e aconselha sobre a importância da exposição solar adequada.
Na prevenção secundária, o farmacêutico desempenha um papel fundamental para o diagnóstico precoce através da aplicação de questionários validados de avaliação de risco de fratura, como o FRAX (Fracture Risk Assessment Tool), uma ferramenta que estima a probabilidade de fratura osteoporótica a 10 anos com base em fatores clínicos e, quando disponível, em dados de densitometria óssea (T-score). A partir destes resultados, pode identificar pessoas com risco aumentado e encaminhá-las para avaliação médica especializada, contribuindo para o diagnóstico atempado e para a redução do risco de fratura e melhoria da qualidade de vida.
Através da educação do doente, assume um papel essencial na promoção da adesão terapêutica, ao explicar a importância da toma correta dos medicamentos (por exemplo, no caso dos bifosfonatos orais, esclarece a necessidade de os tomar em jejum, com água, mantendo-se em posição vertical durante 30 minutos); ao fazer a monitorização da adesão, facilitada por ferramentas como registos eletrónicos de dispensa, lembretes personalizados ou programas de acompanhamento farmacoterapêutico, ou ao ajudar na gestão de efeitos adversos e do apoio motivacional contínuo, adaptados às necessidades individuais de cada utente, reforçam o compromisso com o tratamento.
Um acompanhamento que se prolonga no tempo e se traduz na prevenção de interrupções do tratamento, redução do risco de fraturas e melhoria da funcionalidade e autonomia do utente, promovendo, em última análise, uma melhor qualidade de vida.
Tendo em conta que a osteoporose representa um desafio de saúde pública que exige uma resposta coordenada e multidisciplinar, o farmacêutico comunitário emerge como um elemento estratégico na cadeia de cuidados, ocupando uma posição privilegiada pela sua acessibilidade, proximidade ao utente e competências clínicas especializadas.
E isso faz-se ao colaborar em programas comunitários de prevenção de quedas e promoção do exercício físico; participar em iniciativas locais ou nacionais de rastreio e vigilância, articuladas com os cuidados de saúde primários; encaminhar utentes com risco acrescido, identificado através do FRAX ou de rastreios realizados na farmácia, para avaliação médica; partilhar informação clínica relevante, como dados sobre adesão, efeitos secundários ou uso incorreto da terapêutica (com consentimento do utente).
A valorização e consolidação deste papel do farmacêutico comunitário na gestão da osteoporose representa, assim, uma oportunidade de reforçar a eficiência e a humanização dos cuidados de saúde de proximidade, respondendo de forma mais eficaz às necessidades de uma população envelhecida e cada vez mais exposta aos riscos desta doença silenciosa.
Ema Paulino, Presidente da Direção da Associação Nacional das Farmácias (ANF)




