Prescrição de medicamentos por enfermeiros e fisioterapeutas? Médicos discordam 1389

Espanha acaba de aprovar um anteprojeto da nova lei do medicamento para aprofundar a prescrição de fármacos por enfermeiros, um caminho iniciado em 2009, e alargá-la aos fisioterapeutas.  Em Portugal, enfermeiros e fisioterapeutas parecem recetivos à ideia, mas médicos discordam.

Além de Espanha, Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Noruega, França e Holanda são alguns dos países onde os enfermeiros estão autorizados a prescrever fármacos. Alguns estão limitados a um conjunto de medicamentos, outros fazem-no com algum tipo de supervisão médica.

 

Os enfermeiros

Luís Filipe Barreira, bastonário da OE, em declarações ao Jornal de Notícias (JN), destaca que os estudos feitos naqueles países concluem que a prescrição por enfermeiros “permitiu melhorar o acesso e reduzir tempos de espera, com os mesmos níveis de segurança”. Considerando que Portugal não pode continuar a tratar este tema como “um tabu”, a OE quer fazer um caminho “sustentado”, começando pela prescrição das ajudas técnicas para depois avançar para os fármacos. “Da parte do Ministério da Saúde temos tido alguma recetividade”, realça o bastonário, garantindo que voltará a insistir no tema com o novo Governo.

 

Os fisioterapeutas

Em Espanha, ainda de acordo com o JN, os fisioterapeutas também estão consagrados no anteprojeto de lei aprovado.

Em Portugal, Ordem dos Fisioterapeutas referiu, ao JN, que o regulamento do ato do fisioterapeuta consagra a prescrição, aplicação e monitorização de todas as intervenções na ciência da fisioterapia. “Ainda que, maioritariamente, essas intervenções possam não lidar diretamente com o medicamento, podem com ele interagir”, refere a Ordem, defendendo também a prescrição de dispositivos de apoios relacionados com a intervenção do fisioterapeuta.

 

Médicos contra

Em comunicado, hoje emitido, a Ordem dos Médicos (OM) “reafirma, com veemência, que a prescrição médica é um ato médico, por definição legal e por exigência ética, técnica e científica. Trata-se de uma competência que implica diagnóstico, avaliação clínica rigorosa e acompanhamento contínuo”.

Por isso, para a instituição, “reabrir esta discussão, com propostas de alargamento de competências a outros profissionais de saúde, é uma distração perigosa que desvia a atenção dos verdadeiros problemas do SNS. A tentativa de criar ruído, ao invés de procurar soluções estruturais, nada contribui para o reforço da resposta em saúde no SNS”.

A OM refere mesmo ter ficado “surpreendida com esta reentrada do tema no debate público”. O bastonário da OM, Carlos Cortes, no comunicado citado, realça que “o diagnóstico, a prescrição médica e o ato médico não são delegáveis” e regressar agora a essa possibilidade “coloca em causa a segurança dos doentes e a qualidade da medicina”.

A Ordem dos Médicos defende “o trabalho em equipa e a cooperação entre todos os profissionais de saúde. Mas essa colaboração deve respeitar os limites das competências próprias de cada profissão e garantir sempre a liderança clínica do médico“.