Paula Rosa Matos: Da Farmácia à Política com uma receita para Alcochete 2667

Entrou na política aos 50 anos, movida pela insatisfação com o rumo do país. Paula Rosa Matos, farmacêutica com mais de 30 anos de experiência, é a candidata da Iniciativa Liberal (IL) à presidência da Câmara Municipal de Alcochete, nas eleições autárquicas de 12 de outubro.

Para a farmacêutica, a política deve ser feita com transparência, foco e espírito de missão, e não como carreira, sendo a ligação à farmácia uma força, pois mantêm-na “próxima das pessoas e dos seus problemas reais”.

O NETFARMA propôs-lhe que respondesse a um questionário de Proust… descubra agora que outras revelações a farmacêutica fez.

Questionário de Proust

Nome: Paula Rosa Machacaz de Matos
Ramo da Farmácia que exerce(u): Farmácia comunitária (3 anos) Vendas Indústria Farmacêutica DIV (4 Anos) Marketing IF 25 anos
Cargo a que se candidata: Presidente da Câmara de Alcochete
Filiação Política: Iniciativa Liberal

– Qual é o seu lema de campanha (ou de vida), mesmo que só funcione com ibuprofeno?
– O meu lema de campanha é simples: “Resolver problemas em vez de arranjar desculpas.” Pode exigir algum ibuprofeno de vez em quando, porque a gestão pública dá dores de cabeça a qualquer um, mas é isso que me move: olhar de frente para os problemas, encontrar soluções práticas e trabalhar com transparência e determinação. É essa atitude que quero trazer para Alcochete: menos burocracia, mais liberdade, mais resultados.

– Se fosse um medicamento, qual seria?
– Se fosse um medicamento, seria uma vacina: porque previne problemas antes de eles acontecerem, dá confiança às pessoas e prepara a comunidade para o futuro. É isso que quero fazer em Alcochete, antecipar desafios, criar soluções sustentáveis e proteger o bem-estar da população. E, tal como uma vacina, não prometo milagres imediatos, mas sim resultados sólidos e duradouros.

– Qual foi o momento em que pensou: “Isto está mesmo a acontecer, vou entrar na política”?
– Entrei na política aos 50 anos porque não me conformava, e não me conformo, com o rumo que o meu país estava a tomar. Sempre acreditei que a política não deve ser ‘feia’, mas sim um dever cívico. Percebi que, em vez de esperar que os outros resolvessem os problemas, tinha de assumir também a minha parte de responsabilidade. Foi por isso que escolhi a Iniciativa Liberal: porque acredito que a política não deve ser uma profissão, mas sim uma missão temporária de serviço público. Deve ser feita por cidadãos comuns, com experiência de vida e profissional, que querem contribuir para mudar o rumo de Portugal.

– Concilia a Farmácia com a vida política?
– Conciliar a farmácia com a vida política é um desafio, mas também é uma força. A farmácia mantém-me próxima das pessoas, dos seus problemas reais e das suas necessidades diárias, desde o idoso que precisa de acompanhamento ao jovem que procura aconselhamento. É esse contacto direto com a comunidade que trago para a política. Porque acredito que quem está na vida política deve ter um pé bem assente no terreno, conhecer a realidade e não viver fechado nos gabinetes. A Farmácia dá-me essa ligação diária e é isso que faz de mim uma candidata que conhece de perto os desafios e sabe procurar soluções práticas.

– Na sua vida política, o facto de ser farmacêutica trouxe-lhe alguma mais-valia? 
– Sim, e de forma muito concreta. A logística farmacêutica é de uma complexidade notável: gerir stocks e prazos de validade, cadeias de frio, reconciliações financeiras e a segurança do circuito do medicamento, exige uma organização milimétrica. Conseguimos, com recursos limitados, garantir um sistema seguro e eficiente que faz com que tudo pareça simples. Para além dessa capacidade operacional, a prática farmacêutica traz rigor científico e competências sólidas de análise de dados, essenciais para avaliar riscos, priorizar intervenções e medir resultados. E não menos importante: o contacto diário com os utentes dá-nos uma sensibilidade única para os problemas reais das famílias; em muitas comunidades o farmacêutico é simultaneamente conselheiro, cuidador e, por vezes, o “psicólogo” ou “padre” de serviço. Atrevo-me a dizer que todos os decisores públicos beneficiariam de um estágio no circuito de distribuição do medicamento: perceberiam como protocolos bem desenhados, gestão por prioridades e planeamento rigoroso transformam a complexidade em serviços públicos que funcionam para as pessoas. É esta a experiência prática e humana que trago para a política.

– O que é mais difícil: convencer um utente a terminar o antibiótico ou um eleitor a ler o programa eleitoral?
– Convencer um eleitor a ler um programa. Terminar um antibiótico é uma recomendação clínica com risco imediato e consequência direta (resistência, falha terapêutica): quando explicada com clareza, costuma ser compreendida. Levar um eleitor a dedicar tempo ao programa exige contrariar desinteresse e ruído informacional, por isso a comunicação política deve ser tão clara e baseada em evidências quanto a comunicação clínica: sintetizar benefícios concretos e aplicar linguagem orientada para o impacto no dia a dia.

– Qual é o seu superpoder farmacêutico que gostaria de aplicar na política?
– Avaliação de risco e estabelecer prioridades baseadas em evidência. Na farmácia isso traduz-se em decidir rapidamente entre alternativas terapêuticas; na política, em identificar medidas com maior benefício e alocar recursos de forma eficiente. Esta capacidade permite focar intervenções de alto impacto, reduzir desperdício e promover resultados mensuráveis para a comunidade.

– Se pudesse prescrever uma receita para melhorar o seu município, o que incluiria?
– A receita que prescrevo para Alcochete parte de um princípio simples: só com mais riqueza gerada localmente conseguiremos financiar, de forma estável e sustentável – sem artifícios orçamentais – o acesso à saúde, a habitação digna e uma educação que funcione como verdadeiro elevador social. Por isso a prioridade tem de ser criar condições para a economia local prosperar, construindo um ambiente atrativo para investimento sério e para quem cria emprego qualificado. Claro que um município tem responsabilidades básicas inegociáveis: manter estradas em condições, garantir higiene urbana e assegurar o bom estado das escolas e infraestruturas. São tarefas do dia-a-dia que uma Câmara tem de cumprir – e cumpriremos. O problema é quando a campanha se reduz a anunciar apenas isso: quem só fala em “tapar buracos” demonstra uma visão curta. Prometer manutenção sem uma estratégia para gerar riqueza não resolve os problemas estruturais das famílias. A nossa proposta vai além do imediato. Queremos criar um ciclo virtuoso em que um melhor ambiente de negócios, a valorização do património e o investimento no talento local gerem riqueza e emprego – permitindo oferecer serviços públicos de qualidade e sustentáveis, sem remendos nem improvisos. É essa visão pragmática e de longo prazo que proponho a Alcochete.

– Quais são as três ideias-chave ou as três grandes “bandeiras” da sua campanha para implementar no seu município?
– Alcochete é um cofre de oportunidades – berço de D. Manuel I, com indústria de destaque ligada ao futebol, um parque logístico considerável, acessos às principais autoestradas do país, a perspetiva de um aeroporto e um estuário único. As nossas três bandeiras aproveitam esses ativos para gerar emprego, riqueza e qualidade de vida.
1. Mais Tejo — recuperar o estuário, criar riqueza e devolver segurança. O problema das amêijoas e do desequilíbrio do estuário é também uma oportunidade: trazemos a ciência para a solução. Promoveremos estudos robustos sobre sedimentos e risco sanitário, protocolos académicos e planos de reabilitação (bancadas de ostras, aquacultura) que permitam, em segurança, delimitar zonas de concessão e abrir concursos públicos.
Porquê: restauração ambiental + produção segura = economia local, emprego e extinção de circuitos ilegais; objetivo final: criar a marca “Marisco do Tejo”.
2. Alcochete Manuelina — turismo cultural e valorização do património. Vamos transformar a nossa história num produto turístico de um dia: museu modernizado, roteiros sobre D. Manuel I, projeções imersivas (video-mapping), circuitos pelo património romano e inclusão de atividades gastronómicas locais. Articularemos pacotes com operadores turísticos de Lisboa para trazer visitantes durante a semana e animar o comércio local.
Porquê: turismo de qualidade gera rendimento direto para comércio e restauração, preserva identidade e amplia a visibilidade nacional do concelho.
3. Bullring Alcochete Business Center — atrair empresas de alto valor. Criar um centro de negócios com serviços partilhados, “Loja do Cidadão”, incentivos e um programa de formação (Academia de Competências) para ligar escolas e empresas. O nome Bullring conjuga tradição (praça de toiros) e ambição económica (mercado em alta).
Porquê: empresas de alto valor trazem empregos bem pagos, retêm talento local e elevam a base tributária do concelho, permitindo financiar serviços públicos de forma sustentável.
Estas três bandeiras são complementares: reequilíbrio ambiental e economia sustentável, turismo cultural de qualidade e atração de investimento de alto valor criam um ciclo virtuoso de emprego, rendimento e serviços públicos de qualidade. É assim que propomos transformar o potencial de Alcochete em prosperidade real e duradoura.

– Qual é o seu efeito secundário mais comum em dias de campanha?
Rouquidão e fadiga vocal. É a consequência direta do contacto prolongado com o público, da multiplicidade de eventos e da necessidade de comunicar com clareza e calor humano. Interpreto-o como sinal de trabalho de campo intenso e proximidade às pessoas.

– O que nunca falta na sua mala de candidato (além de flyers e paracetamol)?
– Garrafa de água, telemóvel, caderno, caneta e uma pequena checklist dos temas locais. Ferramentas práticas para manter a eficiência e atenção aos problemas apresentados pelos munícipes.

– Se tivesse de escolher um slogan inspirado na Farmácia, qual seria?
– “Receita Certa para Alcochete” – comunica competência, solução e proximidade, valores que o público reconhece e valoriza.

– Se tivesse de fazer uma campanha porta-a-porta com um medicamento como mascote, qual seria?
– Vitamina D: símbolo de prevenção, energia e bem-estar. É um “remédio” de prevenção, fácil de identificar e positivo: transmite a ideia de políticas proativas, não reativas, e de promoção do bem-estar da comunidade.

– Qual é a sua fórmula para equilibrar saúde, política e vida pessoal?
– Organizar por prioridades, delegação e tempos de recuperação definidos. Bloquear a agenda em alguns momentos, manter uma equipa de confiança que operacionalize tarefas e reservar períodos inegociáveis para família e descanso. Com planeamento tudo se consegue e com disciplina maximiza-se a eficácia.