Ordem dos Farmacêuticos aproxima-se dos doentes com lançamento da área do cidadão no seu site 785

O 3.º Encontro Proximidade entre Farmacêutico e o Cidadão, organizado ontem pela Ordem dos Farmacêuticos e pela Plataforma Saúde em Diálogo, acolheu o debate “Melhor Informação, Mais Saúde”, que apresentou na sua sede a área do cidadão, que já está disponível no site da Ordem, com informação técnica e científica, mas percetível a todos os utilizadores.

A novidade surge numa altura em que estudos revelam que 30% dos portugueses ainda apresentam níveis problemáticos ou inadequados de literacia em saúde e que estão geralmente associados ao aumento da faixa etária e à diminuição do nível de escolaridade. Mais: de acordo com a OCDE, apenas 12% das pessoas com doenças crónicas consideram-se confiantes na utilização de informação de saúde proveniente da Internet. Estes 12% são menos de 7 pontos percentuais do que a média internacional.

Perante diversas entidades e especialistas na área da Saúde, representantes das associações de doentes e cidadãos, foram abordados os desafios inerentes à partilha de informações fidedignas relacionadas com o uso racional do medicamento, a prevenção da doença e a promoção da saúde.

Na área do cidadão é possível encontrar noções gerais sobre medicamentos, como usar de forma responsável os fármacos, promoção da saúde ou ainda serviços farmacêuticos.

“Qualidade da informação”

O bastonário Helder Mota Filipe referiu que “a Ordem tomou a iniciativa de criar a área do cidadão no próprio site, permitindo assim que qualquer cidadão, qualquer pessoa, doente, saudável, tenha o perfil que tiver, possa aceder a um conjunto de informação”.

Créditos: Ordem dos Farmacêuticos

“Garantimos a qualidade dessa informação, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista científico. E está escrita e disponibilizada de forma a ser percetível pelo cidadão”, notou.

O Centro de Informação e Medicamentos (CIM) é responsável pela criação e manutenção da área do cidadão no site da Ordem dos Farmacêuticos, através da diretora técnica Ana Paula Mendes.

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos lembrou, em seguida, que houve uma alteração da legislação de todas as Ordens profissionais e ficou muito claro o estatuto e a missão dos farmacêuticos: “Proteger os interesses dos destinatários dos serviços”.

Helder Mota Filipe aproveitou a oportunidade para comentar o novo elenco do Ministério da Saúde. “É uma equipa que conhece bem a área farmacêutica e os problemas que envolvem a saúde em Portugal. A maioria dos interlocutores mantém-se, isto parece-me ser um aspeto positivo”.

Mas o bastonário não ficou agradado com tudo. “Não é tão positiva a forma, pelo menos como eu vi, quer dos programas eleitorais, quer agora o programa do Governo, na área da Saúde e na área farmacêutica e do medicamento em particular. Demonstra falta de ambição e até alguma falta de perceção, porque para mim é uma surpresa, relativamente ao papel do medicamento, ao papel que ele tem na garantia da qualidade dos resultados em saúde, mas também o papel que o medicamento, bem ou mal utilizado, pode ter na sustentabilidade do próprio sistema de Saúde”.

Uso correto dos medicamentos

Para Ana Paula Mendes, a área do cidadão “é um projeto que tem o propósito de contribuir para o reforço e a melhoria da informação em saúde que está acessível aos cidadãos, uma vez que apostar na informação em saúde é uma das formas de promover ganhos no setor e de contribuir também para a sustentabilidade dos sistemas de Saúde”.

“As áreas que nós tentamos tocar com os conteúdos que produzimos são, por um lado, o uso correto dos medicamentos; aconselhamento para tratamento e prevenção de doenças e para a adoção de estilos de vida saudáveis”, acrescentou.

Créditos: Ordem dos Farmacêuticos

A área do cidadão “apresenta noções gerais sobre medicamentos, conceitos para o uso correto e seguro ou seleção em conjunto com o profissional de medicamentos e prescrição médica”.

“Tentamos abordar, também, o tratamento farmacológico, promoção da saúde, a prevenção e gestão da doença ou a adoção de comportamentos saudáveis”, concluiu Ana Paula Mendes.

As associações de doentes

Cristina Vaz de Almeida, da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, considerou que o nível da população em literacia em saúde é baixo, seja em Portugal, seja na Europa. “As pessoas realmente têm muita dificuldade em compreender o complexo sistema de Saúde, em aceder às questões da navegabilidade e em usar os recursos de saúde. Nada se faz hoje em dia sem as associações de doentes, absolutamente”, destacou.

“As associações de doentes têm aquilo que nós designamos por perícia e por confiança e agregam aquilo que são as pessoas mais fragilizadas. Trabalhar com as associações doentes de uma forma multiprofissional e interdisciplinar é essencial”, afirmou, acrescentando «o papel também das ordens e dos órgãos farmacêuticos, das sociedades científicas, da Imprensa, das escolas, dos municípios, das redes de proximidade. E tudo isto é que funciona para um determinado fim, que é aquilo que nós estamos aqui a dizer: a promoção da saúde e prevenção da doença”.

Para Cristina Vaz de Almeida “é preciso desenvolver competências para gerar motivação para a pessoa tomar uma decisão, e não o contrário: nós não motivamos para depois dar competências, primeiro damos competências para que elas se sintam motivadas a agir”.

Uma palavra final para as associações de doentes. “Daqui a 5 anos, as associações de doentes, de cariz social, têm que ter 30% dos pacientes, ou seja, em cada 10, 3 doentes são deles. Ora, não se faz omelete sem ovos. As Ordens devem ter aqui um papel para as políticas públicas, de alertar como é que se dá a sustentabilidade para se fazer este trabalho”.

“Conheço bastante associações, mas quando estamos a sistematizar as boas práticas, há ali uma falha. E as associações diferentes têm imensas boas práticas”, rematou.