A Ordem dos Farmacêuticos (OF) defende que não há informação científica que sustente a relação entre o uso de paracetamol na gravidez e alterações no neurodesenvolvimento na infância, admitida na segunda-feira pelo presidente norte-americano.
Num comunicado publicado, ontem, no seu portal, a OF refere que, “de acordo com a revisão de evidência científica publicada, efetuada pelo Centro de Informação do Medicamento da OF (CIM-OF), a Ordem reafirma que a informação atualmente disponível não sustenta esta alegada relação”.
“A associação entre a ocorrência de alterações do neurodesenvolvimento, nomeadamente transtorno de hiperatividade e défice de atenção (THDA) e perturbações do espetro do autismo (PEA), como consequência do uso de paracetamol no decurso da gravidez tem vindo a ser investigada desde há largos anos, com resultados inconsistentes”, continua a OF, acrescentando que “alguns estudos têm apontado para a existência de uma maior incidência de THDA e PEA em filhos de mulheres que utilizaram paracetamol durante a gravidez, enquanto vários outros não o confirmam”.
A existência de uma relação causal entre o uso de paracetamol durante a gravidez e a ocorrência de alterações do neurodesenvolvimento nas crianças expostas “foi recentemente anunciada, tendo por base estudos que supostamente sustentam esta afirmação. Porém, estes trabalhos não aportam evidência científica que proporcione suporte a esta alegação”.
Não obstante, ainda segundo a OF, os estudos citados são maioritariamente de pequena dimensão, apresentando assinaláveis limitações metodológicas no seu desenho e nas conclusões formuladas com base nos dados recolhidos. Adicionalmente, não consideram adequadamente a presença de outros fatores que podem influenciar o risco de TADH e PEA, como fatores genéticos, ambientais, condição clínica materna, entre outros”.
Além disso, “os próprios autores da recente revisão sistemática que é citada referem que a sua análise apresenta limitações que não permitem estabelecer uma relação causal entre o uso de paracetamol durante a gravidez e alterações do neurodesenvolvimento“.
Em contrapartida, o estudo de maior dimensão realizado sobre esta questão, que analisou uma população de cerca de 2,5 milhões de crianças e recolheu dados de quase 186 000 que foram expostas ao paracetamol durante a gestação, “não encontrou evidência de risco aumentado quando, além da exposição ao fármaco, foram considerados fatores genéticos e ambientais, através da comparação com irmãos que não haviam sido expostos ao paracetamol no período pré-natal”.
Posto tudo isto, a OF considera que a análise da evidência atual permite concluir que “é improvável que a exposição ao paracetamol durante a gestação se associe a um risco clinicamente significativo de desenvolver THDA ou PEA durante a infância. Os estudos que sugerem a existência desta associação são heterogéneos e apresentam importantes limitações metodológicas, enquanto os que têm uma estrutura adequada não o comprovam“.
União Europeia: Uso de paracetamol durante a gravidez mantém-se inalterado
Assim sendo, “não existe qualquer fundamento científico para alterar as normas de prática clínica de tratamento da dor e da febre durante a gravidez. O paracetamol mantém-se uma opção de tratamento essencial em mulheres grávidas, observando o princípio da utilização da menor dose eficaz pelo período mais curto“.
A nota técnica elaborada pelo CIM pode ser consultada aqui.




