Farmacêutico comunitário há mais de uma década e docente no Ensino Superior, Diogo Matias decidiu aplicar o seu “sentido crítico farmacêutico” à gestão autárquica.
Candidato à presidência da Câmara Municipal de Mafra pela Iniciativa Liberal, defende uma política próxima dos cidadãos, com foco na saúde, na transparência e na redução da carga fiscal. Entre analogias com medicamentos e propostas para um concelho mais saudável, partilha connosco o seu percurso, motivações e as ideias-chave da sua campanha — tudo com uma dose bem medida de humor e convicção.
Questionário de Proust
Nome: Diogo Matias
Ramo da Farmácia que exerce(u) e quantos anos: Farmácia Comunitária (13 anos) e Ensino Superior (4 anos)
Cargo a que se candidata: Presidência da Câmara Municipal de Mafra
Filiação Política: Iniciativa Liberal
– Qual é o seu lema de campanha (ou de vida), mesmo que só funcione com ibuprofeno?
– Na campanha autárquica 2025 adotamos o lema “Mafra Liberal e Tua!”. Considero a defesa dos direitos e liberdades individuais a grande conquista da história recente, conquista que tem de ser defendida, desde logo a começar no poder local. Verifico um claro afastamento dos cidadãos do interesse pela discussão política, possivelmente relacionado com todas as polêmicas e escândalos recentes, que desacreditaram a classe e premiaram os populismos. Ambiciono envolver o cidadão nas decisões, através da comunicação em proximidade, da consulta pública e dos orçamentos participativos. Porque é o munícipe quem melhor sabe as necessidades do seu concelho!
– Se fosse um medicamento, qual seria e porquê?
– Politicamente encontro muitos paralelismos entre o anti-inflamatório Naproxeno e o meu partido Iniciativa Liberal. Todos os estudos e orientações internacionais incluem-no nas primeiras linhas para dor ligeira a moderada, dor osteoarticular e vários tipos de cefaleias, mas em Portugal, as vendas (ou os votos) continuam abaixo do pretendido. Acredito que a situação está a mudar, mas ainda precisamos de dar mais informação àqueles que podem tomar a decisão: médicos e eleitores. Com decisões mais informadas e quebra dos hábitos instaurados, vamos poder trazer o Naproxeno (e a IL) ao lugar que merece estar!
– Qual foi o momento em que pensou: “Isto está mesmo a acontecer, vou entrar na política”?
– Lembro-me como se fosse hoje: 7 de Novembro de 2023, o momento em que são descobertos largos milhares de euros em notas no gabinete de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa e que levou ao início do processo “Influencer”. Este foi o momento em que percebi que uma renovada geração de políticos era necessária para trazer uma mudança de fundo a Portugal. No dia seguinte, filiei-me na Iniciativa Liberal.
– Concilia a Farmácia com a vida política?
– Defendo que um autarca deve conhecer os seus munícipes. Por isso mantenho a atividade em Farmácia Comunitária que é meio extraordinário para conhecer e ajudar a comunidade local.
– Na sua vida política, o facto de ser farmacêutico trouxe-lhe alguma mais-valia?
– Sim. A proximidade e reconhecimento da população que me facilita as abordagens nas arruadas. E claro que a literacia em saúde favorece a discussão de todos os assuntos municipais com ela relacionados. O hábito de comunicar informação complexa de modo muito simples e conciso é outra vantagem que pode ser transposta da vida profissional para a ação política.
– O que é mais difícil: convencer um utente a terminar o antibiótico ou um eleitor a ler o programa eleitoral?
– Nenhuma é fácil: poucos são os indivíduos resilientes o suficiente, quer para ler um programa eleitoral completo quer para escutarem uma descrição dos vários mecanismos de desenvolvimento de resistência bacteriana. Há que resumir o tema e transmitir apenas os pontos chave e que afetem diretamente a sua vida – se não tomar até ao final pode piorar e o antibiótico que tomou provavelmente já não irá resultar.
– Qual é o seu superpoder farmacêutico que gostaria de aplicar na política? Porquê?
– O sexto sentido farmacêutico: o sentido crítico. Quando encontro um doente polimedicado e com múltiplas patologias, são muitas as campainhas que se ativam na minha cabeça e que me permitem encontrar interações e incompatibilidades. Quero aplicar este sentido crítico na gestão autárquica identificando necessidades, insuficiências e incongruências e encontrando as melhores soluções para as resolver.
– Se pudesse prescrever uma receita para melhorar o seu município, o que incluiria? Porquê?
– Prescreveria uma dose elevada de Metilfenidato (Ritalina©), para focar a atenção dos atuais ou futuros dirigentes camarários nos problemas realmente importantes do município!
– Quais são as 3 ideias-chave ou as 3 grandes “bandeiras” da sua campanha para implementar no seu município?
– Naturalmente tenho um grande interesse em melhorar a Saúde do concelho. Sabemos que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim o atingimento de bem-estar físico, mental e social. A minha ambição para Mafra é transformá-la num município saudável por excelência, com foco na medicina preventiva e na promoção de estilos de vida saudáveis. Para tal, há que reforçar o número de profissionais de saúde, estabelecer parcerias com prestadores privados (incluindo farmácias) e criar laços fortes entre a autarquia, os munícipes e o sistema de saúde. Outras bandeiras incluem mudanças na Gestão Autárquica, que permitam a redução de impostos como o IMI (um dos mais altos em Portugal) e a criação de novos Acessos Rodoviários que ainda não foram adaptados ao enorme crescimento populacional das últimas duas décadas, prioritariamente uma alternativa à passagem pelo centro das vilas da Malveira e Venda do Pinheiro, uma via circundante à Ericeira e um ajuste da capacidade e organização de parqueamentos nas zonas urbanas.
– Qual é o seu efeito secundário mais comum em dias de campanha?
– A tolerância. Porque mesmo àqueles que não concordam com a minha ideologia política, esforço-me para que pelo menos admitam que numa democracia, têm de existir ideias diferentes para promover discussão política e se alcançar a melhor decisão possível para os cidadãos a quem devemos defender. Democracia acima de tudo!
– O que nunca falta na sua mala de candidato (além de flyers e paracetamol)?
– Algum tipo de câmara fotográfica, seja o telemóvel ou a máquina profissional, quero captar e partilhar as minhas ideias políticas e os momentos de contacto com o público.
– Qual foi o conselho mais estranho que já deu ao balcão — e que talvez também sirva para a política?
– Um utente consultou diversos médicos por queixas do foro psiquiátrico e afirmava continuar a não ter melhorias. Ocorreu-me questionar acerca da adesão à terapêutica e percebi que nem sequer havia adquirido ou tomado qualquer da medicação prescrita. O conselho óbvio foi: “se nada tomar, nunca vai melhorar”. A frase pode ser adaptada à política: se nada fizermos, nada irá melhorar!
– Se tivesse de escolher um slogan inspirado na Farmácia, qual seria?
– Proximidade e confiança para cuidar de ti!
– Qual é a sua fórmula para equilibrar saúde, política e vida pessoal?
– Muita motivação, apoio familiar incondicional, uma grande capacidade de organização, cafeína, desporto e não abdicar de demasiadas horas de sono.
– Se tivesse de fazer uma campanha porta-a-porta com um medicamento como mascote, qual seria?
– Levaria a Aspirina. Tal como o Liberalismo, a Aspirina teve o seu maior desenvolvimento ainda durante o século XIX, sendo o seu nome reconhecido por todos, mas apenas quem o aconselha tem o conhecimento das suas variadas aplicações. Usemos a Aspirina Liberal em doses pequenas para prevenir o colapso do sistema económico e em doses altas para tratar febre estatal. Mas precaução: pode provocar reações alérgicas aos aficionados do Marxismo.




