Ministra da Saúde recusa relacionar morte de utente e greve do INEM 272

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, recusou uma relação direta entre a morte do utente de Bragança e a greve dos técnicos do INEM no final de 2024, reiterando que não desistirá de resolver os problemas.

Numa declaração ontem aos jornalistas, sem direito a perguntas, Ana Paula Martins disse que pediu ao inspetor-geral das Atividades em Saúde o relatório completo referente ao caso do utente, de 86 anos, que morreu de enfarte de miocárdio a 31 de outubro de 2024.

Segundo o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), o homem tinha uma probabilidade de sobrevivência, embora reduzida.

Ao início da noite de ontem, no Ministério da Saúde (Lisboa), a governante defendeu, segundo a Lusa, que “o relatório não faz uma ligação direta entre esta morte e a greve”.

“O relatório diz que o quadro clínico da vítima – e cito de novo: ‘inviabiliza, nestas circunstâncias, o estabelecimento de um nexo de causalidade entre o atraso no atendimento por parte do CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e a morte ocorrida’”, afirmou.

No entanto, a ministra reconheceu que “houve atrasos claros no atendimento e, por isso, na prestação do socorro”. E admitiu que a falta de “nexo de causalidade” não deixa o Governo descansado, dizendo que o “mau funcionamento não se voltará a repetir”.

“Todos os dias o INEM recebe, em média, 4.434 chamadas e presta socorro a 4.100 pessoas. Destas, perto de 800 são doentes graves de prioridade máxima. Tirar consequências políticas de situações semelhantes às passadas, significa como tenho sempre dito, resolver os problemas e não atirar a toalha ao chão”, sublinhou.

Sobre o caso do idoso de 86 anos, que morreu de enfarte em 31 de outubro, em Bragança, a IGAS concluiu que, após o INEM demorar 01:20 a chegar, o utente poderia ter sobrevivido se o socorro fosse imediato, mas não culpou trabalhadores.

O relatório indicou que o utente tinha uma probabilidade de sobrevivência, que classificou de ser reduzida e que “estaria sempre condicionada à realização de manobras de suporte básico de vida, quando iniciadas no imediato”.

Os inspetores concluíram ainda que, apesar da falta de resposta atempada por parte do INEM, “não é possível formular-se juízos de culpabilidade na conduta” dos trabalhadores dos CODU [Centro Operacional de Doentes Urgentes], atendendo ao volume de chamadas em espera, reencaminhadas pela Linha 112.

A inspeção-geral da saúde já concluiu as investigações a seis das 12 mortes registadas durante greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar no outono de 2024 e em duas delas associou os óbitos ao atraso no socorro.

Em 26 de junho, quando foi conhecido o primeiro relatório, que concluiu que a morte de um homem em novembro de 2024 poderia ter sido evitada se tivesse sido socorrido num tempo mínimo e razoável, a ministra da Saúde recusou demitir-se, rejeitando também nesta altura qualquer ligação entre a morte e a paralisação dos técnicos do INEM.

No início de novembro de 2024, as greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM às horas extraordinárias e da função pública resultaram em atrasos na resposta de socorro e colocaram em evidência a falta de recursos humanos no instituto.