
O porta-voz do Livre Rui Tavares considerou ontem que as condições para a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, se manter no cargo “vão cessando”, acusando-a de “sobranceria”.
“As condições para a senhora ministra da Saúde se manter no cargo vão cessando e uma leitura política capaz da situação que nós temos na saúde, também com as demissões e nomeações sucessivas de diretores executivos do SNS e vários outros temas que todos os portugueses têm acompanhado com muita preocupação, convergem no mesmo sentido”, sustentou Rui Tavares, citado pela Lusa.
O dirigente do Livre falava aos jornalistas após uma audiência com o Presidente da República, no Palácio de Belém, sobre as alterações ao regime jurídico de entrada e permanência de estrangeiros, altura em que foi questionado sobre o inquérito da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
Este inquérito concluiu que um utente que morreu de enfarte, em outubro, em Bragança, após o INEM demorar uma hora e vinte a chegar, poderia ter sobrevivido se o socorro fosse imediato.
A morte decorreu durante a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar.
“Temos a lamentar que assim seja, infelizmente não posso dizer que nos tenha surpreendido porque sabemos que a má gestão daquela greve, por parte da senhora ministra da Saúde, teve consequências”, disse, criticando a “incapacidade do Governo em dialogar e resolver antecipadamente problemas laborais”.
Interrogado sobre o que esperava da declaração da ministra da Saúde, momentos antes de esta acontecer, Tavares disse que esperava humildade.
“Eu esperaria pelo menos alguma humildade. A senhora ministra da Saúde tem-se apresentado muitas vezes ao parlamento, e no debate público, com uma atitude de alguma sobranceria perante os partidos da oposição que, quando fazem oposição, fazem aquilo que diz o ditado português: ‘quem avisa amigo é’”, afirmou.
Já no parlamento, deputada do Livre Filipa Pinto tinha referido os jornalistas que achava “lamentável que depois de tantos episódios em que as falhas são claras, em que o INEM não funciona e não está a ser tratado o problema com a devida preocupação, a senhora ministra ainda continua a achar que tem condições para continuar”,
Lamentando esta morte, a deputada do Livre defendeu “não é apenas suficiente lamentar uma morte”, reiterando que “as responsabilidades políticas” devem ser assumidas sempre que haja mortes.
“São vários os casos e os relatos da insuficiência do sistema do INEM e que o Governo parece fazer ouvidos moucos a esta questão, o que também para nós é uma situação preocupante”, condenou.
PAN lamenta que ministra “continue blindada”
Também a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, disse “lamentar profundamente” que a ministra da Saúde “continue blindada e não tenha assumido as suas responsabilidades políticas face aos vários casos que se têm sucedido”, afirmando olhar para a situação com “muita consternação”.
“É demasiado grave o que se está a passar no INEM para que, efetivamente, não haja consequências políticas e o relatório do IGAS vem deixar isso bem claro”, considerou, apelando ainda a que o Governo concretize uma medida do PAN, aprovada no Orçamento do Estado, para reforçar o INEM com mais 400 técnicos.
PCP quer que se mude a política
Já a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que esta situação mostra que o Governo não está a fazer o que é necessário para resolver os problemas no INEM, apelando ao reforço dos meios humanos e técnicos do instituto para assegurar o socorro e a emergência às populações, sem pedir a demissão da ministra da Saúde.
“Pode-se até mudar os ministros, mas aquilo que é preciso mesmo mudar é a política, porque, se se mudar os ministros para fazer o mesmo, os problemas vão continuar a acontecer. E, portanto, o que é mesmo necessário é, de facto, uma outra opção política”, defendeu.
Chega considera que é tempo da ministra assumir responsabilidades
Quanto ao presidente do Chega, André Ventura considerou ontem que o relatório da Inspeção-geral da Saúde vai “direto ao coração do Governo e da ministra da Saúde, que tem que “assumir responsabilidades”.
“A senhora ministra disse no parlamento, e estava a responder ao Chega, o deputado Rui Cristina, e disse, olhos nos olhos, ‘quando vier a resposta dos relatórios, se tiver que ser assumida alguma responsabilidade, eu cá estarei para assumir’. Então eu diria que hoje, olhos nos olhos do país, é o tempo de assumir essa responsabilidade”, considerou André Ventura, em declarações aos jornalistas, após uma audiência com o Presidente da República, no Palácio de Belém.
Interrogado sobre se essa responsabilidade deveria ser uma demissão, Ventura remeteu a decisão para a própria, e insistiu que Ana Paula Martins “não devia ter entrado sequer” no executivo.
Ventura defendeu que quando uma ministra ou um primeiro-ministro entendem “que não devem ser retiradas responsabilidades políticas, entramos no país da total impunidade”.
“Eu sei que a senhora ministra vai dizer outra vez que assumir responsabilidade não é ir embora, não é tirar ninguém da equipa, é decidir, e fazer. Só que começa a passar três meses, seis meses, nove meses, um ano, um ano e meio, um ano e seis meses, e o fazer não se traduz em nada”, criticou.