
A ministra da Saúde destacou a confiança dos cidadãos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e espera que Inteligência Artificial (IA) liberte os médicos “para aquilo que mais ninguém pode fazer, que é a relação com os seus doentes”.
O Centro Cultural de Belém, em Lisboa, recebeu na manhã de terça-feira a 13.ª edição da Conferência Sustentabilidade em Saúde, organizada pela biofarmacêutica AbbVie em parceria com o jornal Expresso. A iniciativa teve por objetivo promover a discussão em torno da sustentabilidade do SNS, refletindo sobre o impacto da IA e a recetividade dos utentes portugueses à sua utilização.
Pedro Simões Coelho, professor catedrático da NOVA Information Management School (NOVA IMS), apresentou os resultados do Índice Saúde Sustentável 2025, que todos os anos avalia a sustentabilidade do SNS e discutiu-os com Manuel Pizarro, médico e ex-ministro da Saúde, e Miguel Guimarães, deputado e ex-bastonário da Ordem dos Médicos.
O Índice de Saúde Sustentável 2025 integra também dados inéditos sobre a perceção e recetividade dos utentes relativamente à utilização de IA em saúde que deram o mote para a mesa-redonda “Inteligência Artificial na Saúde: Para Onde Caminhamos?”, que juntou Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed e do conselho de administração da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa), Ricardo Baptista Leite, CEO da Health AI, e Miguel Mascarenhas, professor e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Pontos fortes e fracos do SNS
No Índice Saúde Sustentável 2025, os utentes consideram os profissionais de saúde e a qualidade da informação que transmitem como os pontos fortes do SNS, enquanto elegem os tempos de espera como ponto fraco. A qualidade percecionada pelos utentes relativamente aos serviços subiu de 72,4 para 73,7 pontos.
De acordo com os utentes, é no estado de saúde (78,5 pontos) e na qualidade de vida (78,2 pontos) que a eficácia do SNS tem mais impacto. Isto apesar de considerarem a eficácia dos medicamentos (73,7) superior à dos cuidados de saúde recebidos (70,6).
“A qualidade percecionada pelos utentes aumentou no seu maior valor nos últimos cinco anos. Um caminho que tem de se realçar e incentivar, mas precisamos ainda mais de melhorar”, disse a ministra da Saúde Ana Paula Martins, numa reação a este estudo. “O problema nunca está em quem consegue acesso. O problema está, invariavelmente, em quem fica à porta. E isso é aquilo que nós temos a responsabilidade de garantir que não acontece ou que, pelo menos, é minimizado tanto quanto possível”, acrescentou a governante.
“Em primeiro lugar, segundo este Índice, a atividade do SNS continua a aumentar constantemente”, alertou Ana Paula Martins. “Significa que o Estado e o Governo aumentaram o seu investimento na saúde e melhoraram, com os nossos gestores, a sua gestão”.
Segundo a titular da pasta da Saúde, “curiosamente, e ao arrepio da opinião de alguns, este estudo indica que, segundo a perceção dos utentes, existe um aumento da acessibilidade em 2024. Um aumento que, no entanto, deve ser melhorado e incrementado, porque está muito longe do pretendido, sobretudo naquilo que são o acesso às consultas de especialidade”.
Em jeito de balanço, Ana Paula Martins declarou que “segundo este estudo, a confiança dos cidadãos no SNS continua a subir desde o valor referido para 2018, atingindo o valor muito significativo de 81,6% dos portugueses que reafirmam confiar no SNS. Este estudo confirma-nos algo que, enquanto responsáveis políticos, profissionais de saúde e cidadãos atentos, já sentimos há algum tempo no nosso dia-a-dia”.
Os pontos negativos
Os pontos negativos neste Índice são ao nível da sustentabilidade do SNS, medida numa escala com o nível-base de 100 pontos, passou de 84,8 pontos em 2023 para 79,9 pontos no ano passado. Já quanto à qualidade técnica do SNS, que avalia critérios como a percentagem de cirurgia em 48 horas (fraturas da anca), a mortalidade por AVC (hemorrágico ou isquémico), a prevalência de quedas, as cirurgias em ambulatório, os reinternamentos em 30 dias e a incidência de úlceras de pressão (escaras), tinha caído em 2023 para 66,5% e no ano passado manteve-se praticamente inalterada (66,7%).
O estudo concluiu que a despesa cresceu mais de 50% (passando de cerca de 10 mil M€ para 15,55 mil M€) e a atividade cresceu menos de 10% (de 2,66 milhões para 2,85 milhões de doentes). “O estudo acautela-nos, ao indicar-nos a queda do Índice de Sustentabilidade para um valor de 79,9 pontos. Esta descida, que é a terceira consecutiva, exige de todos nós uma reflexão séria, mas também um compromisso renovado”, concluiu Ana Paula Martins.
A Inteligência Artificial
A atuação da IA na Saúde foi outro dos temas abordados no CCB, com a ministra da Saúde a considerar que “é uma oportunidade única de inovação responsável”. “Precisamos de mais proteção, de ser muito claros na nossa agenda estratégica e digital, onde a Inteligência Artificial está em todo o Estado, mas, com particular enfoque no Serviço Nacional de Saúde”.
“O objetivo é tornar os diagnósticos mais céleres, os dados mais bem aproveitados. Teremos aqui uma grande oportunidade de libertar os nossos profissionais e os nossos médicos para aquilo que mais ninguém pode fazer, que é a relação com os seus doentes. Repensar o SNS sobre a influência da IA é muito mais, e todos sabemos isso, do que pensar uma nova tecnologia”.
“Vai obrigar-nos a repensar o modelo de prestação de cuidados de saúde e também a sua organização. Temos uma transformação digital em curso, e para a qual temos quase 400 M€ de PRR em investimento”, anunciou a governante.