Health Re:Design Summit: Ema Paulino defende maior acesso por parte da população à inovação 668

A grande maioria dos fármacos inovadores são reservados para o circuito de acesso e dispensa a nível hospitalar, “o que pode ter consequências do ponto de vista do acesso da população a esses medicamentos”, assinalou Ema Paulino, presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), no Health Re:Design Summit, realizado ontem na reitoria da Universidade Nova pela Associação de Estudantes da Escola Nacional de Saúde Pública (AEENSP).

Na sessão plenária dedicada à ‘Inovação em saúde’, a responsável da ANF defendeu “uma eventual reclassificação de medicamentos que existem a nível hospitalar que, pelas suas características, não precisam de aí permanecer, e colocá-los no circuito do ambulatório”.

O segundo ponto de inovação apontado pela presidente da ANF diz respeito aos serviços. Dando o exemplo da vacinação sazonal da gripe e Covid-19 nas farmácias, de forma integrada com o Serviço Nacional de Saúde e em complementaridade com os centros de saúde, a responsável lançou o desafio de “aplicar os mesmos critérios de complementaridade, fazendo uso da capacidade instalada nas farmácias comunitárias, para outros serviços e ações de saúde pública”. Nomeadamente, a realização de rastreios ou a gestão de situações clínicas ligeiras, com o objetivo de “desonerar as urgências hospitalares, a atividade não programada dos centros de saúde, e promover uma maior acessibilidade à população”.

 

“Portugal não corrigiu a trajetória de financiamento da Saúde”

O Health Re:Design Summit mobilizou estudantes, líderes institucionais, representantes de associações de doentes, profissionais do setor público e privado e decisores políticos. Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde e professor da ENSP NOVA, focou em particular a questão do financiamento do SNS. Baseando-se no último relatório da Direção-Geral do Orçamento, o ex-governante afirmou que “a partir do fim da pandemia, Portugal não corrigiu a trajetória de financiamento da Saúde”. A despesa pública está “em roda livre”. Em menos de uma década, “aumentou de 9 mil milhões para quase 20 mil milhões de euros”.

Por outro lado, Adalberto Campos Fernandes apontou que “a junção mecânica de hospitais e centros de saúde” em unidades locais de saúde (ULS) não trouxe os resultados esperados. “A solução das ULS, de uma forma mecânica, acrescentou 20% à despesa e não acrescentou 20% à resposta”.

 

‘Cebola burocrática’

Ainda sobre a sustentabilidade do SNS, o economista Pedro Pita Barros, professor da NOVA School of Business and Economics, referiu que “em Portugal temos uma ‘salada’ de instituições” e sobretudo, “dificuldade em definir o espaço de competência de cada uma delas” e avaliar o que fazem.

A descentralização e a passagem de algumas competências para as autarquias podem criar “teias institucionais ou uma ’cebola burocrática’ cada vez mais complexa’. Nesse sentido, o docente defende a necessidade de definir claramente as responsabilidades e o papel de cada uma das instituições, para aumentar a eficiência.

 

Trabalho vencedor no NETFARMA

Na sessão de encerramento, foram finalmente conhecidos os vencedores do concurso científico do Health Re:Design Summit, dirigido a estudantes e profissionais de saúde.

  • O primeiro prémio foi atribuído ao trabalho ‘Inteligência Artificial e inovação em saúde’, representado pela enfermeira Marlene Piçarra.
  • O segundo prémio, que distinguiu o trabalho ‘Top Farmácia Hospitalar’, representado pela farmacêutica Carla Diogo.
  • ‘A new participation model – early career pharmacists’, também recebido por Carla Diogo, em representação de Ricardo Santos e Diogo Morim, recebeu o terceiro prémio e será publicado brevemente no NETARMA.