
48% dos farmacêuticos com menos de 35 anos está insatisfeito com as condições de trabalho, de acordo com os resultados do estudo divulgado hoje pela Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF), que servirá de base para o Pacto pela Valorização da Profissão e Atividade do Farmacêutico Comunitário.
O inquérito revelou, com base na participação de mais de mil farmacêuticos comunitários de diferentes faixas etárias, que a satisfação geral com a profissão apresenta desafios significativos. Neste sentido, por exemplo, mais de 90% dos farmacêuticos comunitários dizem-se preocupados com as condições do mercado de trabalho em Portugal.
Apesar das dificuldades, o estudo, que avaliou as perceções dos profissionais sobre as suas condições de trabalho e de exercício da sua atividade profissional, evidencia também aspetos positivos: de um modo geral, os farmacêuticos consideram que as farmácias dispõem das condições essenciais de qualidade, segurança, privacidade dos utentes e bem-estar das equipas. Por sua vez, 96% dos inquiridos acreditam que o seu trabalho e atividade têm um impacto positivo na saúde e bem-estar da população.
Em contexto de grande mudança e volatilidade, o Pacto pela Valorização da Profissão e da Atividade do Farmacêutico Comunitário surge, assim, como uma iniciativa que pretende promover a melhoria das condições laborais e a implementação de políticas que incentivem a qualificação, a diferenciação profissional e a conciliação entre a vida pessoal e profissional. “Acreditamos que este pode ser um primeiro sinal importante e uma base para uma ação coordenada que garanta a atração e retenção de talento farmacêutico nas farmácias e, ao mesmo tempo, que crie condições para o desenvolvimento das farmácias a médio-longo prazo, para que possam continuar a prestar serviços e cuidados farmacêuticos à população em proximidade”, declara, em comunicado, Lucas Chambel, presidente da APJF.
Eis os principais resultados.
Satisfação com a remuneração
Um dos principais desafios e constrangimentos assinalados pelos farmacêuticos é a remuneração , com 3 em cada 4 a não estar satisfeito com a sua remuneração, principalmente em função das suas qualificações profissionais e da realidade socioeconómica do país.
De acordo com o estudo, a maioria dos farmacêuticos (58%) tem um rendimento mensal líquido entre 1.000 e 1.500€; 6% tem um rendimento inferior a 1.000€; e cerca de 7% tem um rendimento mensal líquido superior a 2.000€.
Quanto aos jovens farmacêuticos, 3 em cada 4 tem um rendimento mensal líquido entre 1.000 e 1.500€.
Além disso, foi apurado que 83% dos farmacêuticos comunitários não está satisfeito com a perspetiva de carreira oferecida na área de farmácia comunitária e 71% dos farmacêuticos comunitários não está satisfeito com a remuneração atual.
Equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar
A harmonia entre a vida profissional, pessoal, familiar destaca-se como uma das principais preocupações dos farmacêuticos.
Na perspetiva dos farmacêuticos, os horários de trabalho são um constrangimento maior do que o ritmo de trabalho ou a carga horária. Daí que 67% dos farmacêuticos comunitários não sente que exista um equilíbrio saudável entre a vida profissional e familiar.
Benefícios laborais
Uma grande maioria de farmacêuticos diz receber benefícios como descontos de colaborador, alteração de horário de acordo com necessidades pessoais e tickets de refeição ou cartão de refeição. Não obstante, os benefícios que consideram como mais importantes são a alteração de horário de acordo com necessidade, a flexibilidade na gestão do horário e o desconto de colaborador, assim como os dias de férias extra e a existência de prémios anuais.
Assim sendo, “existem oportunidades de desenvolvimento de políticas de atração e retenção de farmacêuticos pelas farmácias comunitárias. A introdução de mais flexibilidade na gestão de horário, de dias de férias extra, a possibilidade ausência remunerada no dia de aniversário, a disponibilização de planos médicos ou seguros de saúde e de pensões, a criação de prémios anuais fixos ou atribuídos em função do cumprimento de objetivos não-comerciais são alguns exemplos”, lê-se no estudo.
Progressão na carreira
Os farmacêuticos consideram que a formação profissional contribui positivamente para a melhoria da
qualidade dos serviços e para a progressão de carreira.
Deste modo, apurou-se que 3 em cada 4 farmacêuticos acredita que a formação profissional contribui para a melhoria da qualidade dos serviços e pode contribuir para a progressão na carreira.
Oportunidades no estrangeiro
30% dos inquiridos refere que já procurou oportunidades de trabalho em farmácia comunitária no estrangeiro, sendo que o valor que sobe para 4 em cada 10 nos casos dos farmacêuticos com menos de 35 anos.
Aliás, cerca de metade dos farmacêuticos consideraria exercer a profissão no estrangeiro devido às condições de trabalho oferecidas.
Estes resultados parecem “dever-se ao facto de grande parte dos jovens considerarem que a profissão é mais diferenciada e com mais oportunidades de carreira no estrangeiro”, sublinha o estudo.
Proposta de compromisso já está a ser trabalhada
A APJF confirma que uma proposta de compromisso já está a ser trabalhada em articulação com a Ordem dos Farmacêuticos, o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, a Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia, a Associação Nacional das Farmácias, a Associação de Farmácias de Portugal e a Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade.
A este respeito, Tiago Rodrigues, vice-Presidente da APJF e um dos coordenadores do Estudo, assinala, também em comunicado, que “tivemos oportunidade de reunir e discutir os resultados com as organizações representativas do sector farmacêuticos” e revela que “há uma grande abertura e um consenso alargado de que precisamos de uma agenda coletiva que promova o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos farmacêuticos e os principais aspetos a incluir no Pacto já estão identificados”.
O dirigente associativo sublinha ainda que os jovens farmacêuticos não estão a exigir um caderno de encargos ao setor, mas estão antes a encontrar as bases necessárias para uma ação conjunta e coordenada.
A assinatura do acordo entre várias entidades do setor com medidas e objetivos concretos acontecerá brevemente.