Dieta rica em gordura aumenta o risco de cancro do fígado 48

Uma dieta rica em gordura altera as células do fígado, revertendo-as para um estado imaturo e tornando-as mais propensas a tornarem-se cancerígenas, de acordo com um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

Os investigadores descobriram que, em resposta a uma dieta rica em gordura, as células maduras do fígado (hepatócitos) revertem a um estado imaturo, semelhante ao das células estaminais.

Esta circunstância ajuda-as a sobreviver às condições stressantes de uma dieta rica em gordura, mas, a longo prazo, torna-as mais suscetíveis de se tornarem cancerígenas, segundo a investigação publicada na segunda-feira na revista Cell, a que a Lusa teve acesso.

“Se as células hepáticas forem forçadas a lidar continuamente com um fator stressante, como uma dieta rica em gordura, farão coisas que as ajudem a sobreviver, mas à custa de aumentar a sua suscetibilidade ao desenvolvimento de tumores”, realçou um dos autores, Alex Shalek, diretor do Instituto de Ciências Médicas e Engenharia do MIT.

Os investigadores identificaram também vários fatores de transcrição genética que parecem controlar esta reversão celular, o que pode ajudar no desenvolvimento de terapias destinadas a prevenir o desenvolvimento de tumores em doentes de alto risco.

Já se sabia que uma dieta rica em gordura pode causar inflamação e acumulação de gordura no fígado, uma condição conhecida como esteatose hepática ou fígado gordo.

Esta doença, que também pode ser causada por uma grande variedade de stressores metabólicos (como o elevado consumo de álcool), pode levar à cirrose hepática, insuficiência hepática e, em última instância, ao cancro.

Com este trabalho, os investigadores do MIT quiseram descobrir exatamente o que acontece nas células hepáticas quando expostas a uma dieta rica em gordura, especificamente, que genes são ativados ou desativados quando o fígado responde a este stressor.

Numa experiência com ratinhos, alimentaram os roedores com uma dieta rica em gordura e realizaram a sequenciação de RNA de célula única das suas células hepáticas em momentos-chave à medida que a doença hepática progredia.

Isto permitiu-lhes detetar alterações na expressão genética à medida que os ratinhos progrediam em direção à inflamação hepática e, em última instância, ao desenvolvimento de tumores.

Os investigadores descobriram que, inicialmente, uma dieta rica em gordura fazia com que os hepatócitos (as células mais abundantes no fígado) ativassem genes que os ajudavam a sobreviver num ambiente stressante.

No entanto, ao mesmo tempo, estas células começaram a desativar alguns genes essenciais para o normal funcionamento dos hepatócitos, como os relacionados com as enzimas metabólicas e as proteínas secretadas.

Algumas destas alterações ocorreram de imediato, enquanto outras, como a diminuição da produção de enzimas metabólicas, ocorreram de forma mais gradual.

A maioria dos ratos submetidos à dieta rica em gordura acabou por desenvolver cancro de fígado no final do estudo.

A razão, segundo os investigadores, é que, quando as células estão num estado mais imaturo, são mais suscetíveis de se tornarem cancerígenas caso ocorra uma mutação mais tarde.

Os investigadores identificaram também os genes que revertem os hepatócitos para um estado imaturo, essenciais para a descoberta de alvos terapêuticos.