
A distribuição de medicamentos representa um dos pilares fundamentais do sistema de saúde, sendo essencial para garantir que os cidadãos tenham acesso contínuo e equitativo aos tratamentos de que necessitam. Com a evolução contínua da tecnologia e o desenvolvimento de novas terapêuticas, os desafios da logística farmacêutica tornam-se mais complexos, mas originam também oportunidades relevantes para o setor. No atual contexto, a missão dos distribuidores farmacêuticos de serviço completo é clara: assegurar o abastecimento regular e contínuo de medicamentos e outros produtos de saúde, de forma uniforme em todo o território nacional.
Atualmente, a gestão da disponibilidade do medicamento constitui um desafio relevante para o setor farmacêutico. A escassez é uma preocupação crescente para a estabilidade da cadeia de abastecimento farmacêutico, exigindo uma resposta articulada entre os diversos intervenientes do setor. Esta realidade deve-se, em particular, à produção insuficiente, a políticas de preço desajustadas e a aumentos imprevistos da procura. O mais recente relatório do Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU) indica que, entre os medicamentos mais afetados, estão os destinados ao tratamento do sistema nervoso, do sistema cardiovascular e antibióticos. Dentro do seu espectro de atuação, os distribuidores efetuam a monitorização em tempo real dos stocks de medicamentos através de comunicações regulares com o Infarmed.
Paralelamente à escassez dos medicamentos, assistimos à entrada no mercado de novas terapêuticas, inovadoras e eficazes, mas significativamente mais exigentes do ponto de vista logístico. O avanço das terapias biotecnológicas e a introdução de novos medicamentos sensíveis à temperatura, com requisitos especiais de conservação e manuseamento, reforçam a necessidade de uma gestão rigorosa da cadeia de frio. A manutenção da estabilidade térmica em todas as fases da cadeia logística, com recurso a tecnologias de monitorização contínua, é hoje uma exigência incontornável.
A existência de novos medicamentos no mercado exige aos operadores de distribuição farmacêutica uma constante adaptação, de forma a acompanhar as exigências específicas destas novas terapêuticas, um movimento que deve ser efetuado com consciência ecológica. O transporte especializado e o consumo energético, especialmente relevantes na gestão da cadeia de frio, representam os principais vetores da pegada carbónica da atividade. Neste cenário, a transição verde surge como uma oportunidade para repensar processos logísticos, adotando soluções mais eficientes, energias renováveis e modelos de transporte menos poluentes. A par desta transição, a digitalização da cadeia de distribuição assume um papel central. Tecnologias emergentes como inteligência artificial e sistemas preditivos, não só permitem antecipar ruturas e otimizar a alocação de recursos, como garantem níveis acrescidos de rastreabilidade, segurança e eficiência, aspetos cruciais na distribuição de medicamentos inovadores e mais complexos.
Com o avanço da ciência e novos medicamentos mais especializados e sensíveis, o quadro regulamentar deve acompanhar esta evolução com maior exigência. A distribuição de medicamentos é um setor com elevada regulamentação, mas a introdução de terapêuticas com requisitos muito específicos de conservação, transporte e manuseamento torna ainda mais crítico o cumprimento rigoroso das normas.
As obrigações legais e técnicas, que abrangem desde a rastreabilidade à documentação, passando pelo controlo de temperatura e segurança na armazenagem, estão em constante atualização, refletindo os desafios trazidos por estas novas realidades terapêuticas. Para os operadores logísticos, isto significa ter estruturas altamente qualificadas, processos auditáveis e capacidade de resposta rápida a novas diretivas.
Uma evolução significativa no acesso aos cuidados de saúde foi a transição de medicamentos de uso hospitalar para dispensa nas farmácias comunitárias, na qual o distribuidor farmacêutico de serviço completo tem um papel fundamental. Projetos-piloto como o Farma2Care demonstraram resultados sólidos, promovendo a proximidade ao doente e reduzindo a pressão sobre os hospitais: entre 2019 e 2024, foram entregues quase 33 mil embalagens a 387 farmácias comunitárias, sendo que mais de 2.200 embalagens correspondiam a medicamentos destinados a terapêuticas que exigem cadeia de frio. A experiência acumulada comprova que os distribuidores farmacêuticos têm a capacidade logística e o conhecimento para alargar esta intervenção a outras áreas terapêuticas, e mesmo a serviços adicionais.
A distribuição farmacêutica enfrenta diversos desafios, desde a escassez, garantia de sustentabilidade, nível de exigência da regulamentação e complexidade logística, mas são igualmente relevantes as oportunidades que se lhe apresentam. A evolução dos modelos de dispensa, a digitalização, as novas terapêuticas e a aposta na proximidade constituem caminhos promissores. Para os concretizar, é essencial reforçar a valorização da função logística no ecossistema da saúde e dotar o setor dos meios financeiros, tecnológicos e regulatórios adequados. Só assim é possível garantir que a distribuição farmacêutica continua a cumprir a missão de ser um elemento invisível, mas imprescindível, assegurando o acesso aos medicamentos, em qualquer ponto do país.
Daniela Almeida
Diretora de Operações da Empifarma