COVID-19: A importância das medidas de prevenção 4756

Artigo de Opinião de Sara Ferrão, Farmacêutica e Medical Writer
Directora Técnica Farmácia São José

O novo corona vírus, 2019-nCoV, foi identificado pela primeira vez em humanos, na China em 2019. A Organização Mundial de Saúde (OMS) foi alertada, em Dezembro de 2019, para alguns casos de uma pneumonia de origem desconhecida na cidade de Wuhan, tendo a existência do vírus sido confirmada pelas autoridades chinesas, em Janeiro de 2020. Desde aí, já existem casos diagnosticados em todo o mundo, o que levou a que a OMS considerasse o estado de emergência global de saúde pública, desencadeando os planos de contingência adequados de cada país.

Os coronavírus são um grupo de vírus conhecido desde meados dos anos 1960 e existem maioritariamente nos animais, mas podem infectar humanos sendo responsáveis por infeções respiratórias agudas, brandas a moderadas. Entre os coronavírus encontra-se o vírus causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS em inglês), responsável pelo surto ocorrido entre 2002-2003; o MersCov – Síndrome Respiratória do Médio Oriente, responsável pelo surto em 2012 e ainda não totalmente eliminado; e o novo 2019-nCoV.

Este vírus é responsável pela manifestação de sintomas de infeção respiratória comum. No entanto, há casos (imunodeprimidos, idosos, lactentes/crianças, doente crónicos) que evoluem para doença mais grave, podendo levar à morte.

A terapêutica farmacológica para esta doença ainda não está disponível, sendo neste momento utilizadas medidas de suporte que tratam os sintomas existentes. Decorrem estudos cIínicos no sentido de desenvolver novos fármacos e vacinas para este novo coronavírus. Dada a urgência da situação, estão a ser, também, desenvolvidos estudos no sentido de utilizar fármacos disponíveis no mercado e eficazes contra vírus com características semelhantes ao 2019-nCoV.

A forma de transmissão do 2019-nCoV está ainda a ser estudada, mas tendo em conta a natureza do vírus, julga-se ocorrer de forma similar ao SARS. A transmissão ocorre de pessoa para pessoa e não é necessário contato físico próximo (distância de um ou menos de um metro) para haver contágio. Pode ser transmitido pelo ar, nas gotículas expelidas (espirros, tosse ou simplesmente quando se fala); ou através de objetos inertes contaminados (por exemplo, as maçanetas das portas, botão de elevador …).

Um espirro ou tosse são reflexos que ocorrem devido a irritação das vias nasais e/ou orofaríngeas e resultam numa compulsiva expulsão de ar pelo nariz e boca. Um espirro pode espalhar milhares de gotículas e aerossóis, cujo diâmetro varia entre três dimensões de partículas:
– partículas com diâmetros superiores ou iguais a 10 µm, cujo percurso durante a exalação é normalmente de poucos metros;
– partículas entre 5 e 10 µm, que se podem projectar e atingir a face da pessoa próxima;
– partículas com diâmetro inferior a 5 µm, que funcionam como aerossóis. Estas permanecem durante muito tempo na atmosfera e podem ser transportadas, por exemplo por correntes de ar, a várias distâncias.

A transmissão e o potencial de gerar doenças são determinados por esta variabilidade no tamanho das partículas, que estando infecciosas podem levar à transmissão de vírus e gerar a doença.

No caso de contato próximo, a cara, os olhos e as fossas nasais podem ser prontamente atingidas por partículas superiores a 10 µm e, numa fase posterior pelas partículas em aerossol. Estas partículas de maiores dimensões também podem ser transportadas pelas mãos do próprio para a cara e mucosas, levando à infecção. As partículas entre 5 e 10 µm ficam maioritariamente retidas nas fossas nasais e na árvore respiratória, devido à presença das barreiras mecânicas fisiológicas. Os aerossóis passam essas barreiras, viajando até aos alvéolos e atingindo o terço médio dos brônquios, onde se sabe que se localizam receptores específicos do 2019-nCoV. Caso as partículas estejam infectadas com este vírus, a probabilidade do indivíduo ficar infectado é grande.

As medidas não farmacológicas de prevenção recomendadas pelas entidades competentes e profissionais de saúde são, assim, de extrema importância para travar a transmissão do 2019-nCoV. Devem ser tidas em consideração e adotadas por toda a população!

Quando em contacto próximo, a inalação pela projecção de partículas é a via mais frequente de contágio. É portanto necessário fazer a contenção dessas partículas, evitando que elas não se espalhem na atmosfera, através da utilização de máscara ou de um lenço descartável para tapar o nariz ao espirrar e tossir, e espirrando ou tossindo para o antebraço.

A lavagem frequente das mãos com água e sabão ou com uma solução alcoólica é importante para evitar a contaminação através de superfícies inertes. Este modo de transmissão não deve ser menosprezado dado que se sabe que este tipo de vírus, de acordo com a sua natureza, tem uma duração de infeciosidade em superfícies inertes que pode durar, dependendo das condições do calor e da humidade, até dois dias. Salienta-se que, no caso de existirem correntes de ar, as superfícies podem voltar a disseminar a partícula infectada e a ressuspendê-la, podendo haver a infecção do nariz e da boca, agora com as mãos do próprio indivíduo, após contacto com a superfície contaminada.

É também recomendado que se evite, quando possível, o contacto com pessoas que sofrem de infecção respiratória.

No caso de Portugal, a Direção Geral da Saúde (DGS) está a acompanhar a situação e tem vindo a reforçar as recomendações de medidas de prevenção gerais descritas, emitindo outras específicas para viajantes para o estrangeiro. Em caso de qualquer questão referente a este vírus, a DGS apela a que não se acorra ao serviço de urgência mais próximo sem antes se contactar a Linha de Saúde disponível (SNS24) – 808 24 24 24. Desta forma pretende-se diminuir o potencial de transmissão e melhorar os cuidados fornecidos a cada doente.