Cientistas identificam potencial biomarcador de diagnóstico rápido de cancro da bexiga 506

Uma equipa de cientistas, incluindo dois portugueses, identificou uma molécula de açúcar na urina de doentes com cancro da bexiga que pode vir a servir para detetar de forma rápida e simples a doença na sua manifestação mais grave.

“Com a nossa descoberta, duas gotas de urina podem ser suficientes para detetar o cancro da bexiga sem exames invasivos, uma alternativa mais cómoda, rápida e acessível”, disse à Lusa a investigadora Inês Moreira, primeira autora do trabalho publicado na revista científica Cell Reports Medicine e doutoranda no Instituto de Bioquímica Clínica da Faculdade de Medicina de Hannover, na Alemanha.

A deteção do açúcar ‘nLc4’, assim se chama, numa análise à urina apenas será útil para identificar de forma rápida os casos em que o tumor “já invadiu o músculo à volta da bexiga”.

O nLc4 está sobretudo associado à forma músculo-invasiva da doença, que é a mais grave. Isso torna-o particularmente relevante, porque identificar estes casos de forma rápida pode fazer uma grande diferença no tratamento e na evolução da doença”, explicou Inês Moreira.

Atualmente, o diagnóstico é feito, acima de tudo, através de cistoscopia, um exame endoscópico da bexiga que “pode ser desconfortável e exige recursos hospitalares”.

“O cancro da bexiga pode ser uma doença muito agressiva, sobretudo quando atinge os estádios mais avançados. Nestes casos, o risco de progressão e disseminação é elevado. Por isso, é essencial detetar o tumor o mais cedo possível”, justificou a investigadora.

O estudo foi conduzido na Alemanha por uma equipa de investigadores de várias universidades, que integrou também o português Manuel Vicente, colega de Inês Moreira na mesma instituição, e incluiu doentes em estádios iniciais e avançados de cancro da bexiga.

“O que permitiu perceber que o nível de nLc4 aumenta com a progressão da doença”, adiantou Inês Moreira, realçando que “este açúcar encontra-se à superfície das células tumorais e é libertado por elas, podendo assim ser detetado na urina”.

A concentração deste açúcar na urina é particularmente elevada quando o tumor já atingiu o músculo em redor da bexiga.

No laboratório, a equipa de cientistas analisou amostras de tecido (biópsias) e urina de doentes com cancro da bexiga, comparando-as com amostras de pessoas sem a doença, tendo identificado e medido os níveis de diferentes moléculas de açúcar.

“O objetivo era perceber quais estavam mais presentes nos doentes. Foi assim que o nLc4 se destacou como um forte candidato”, sublinhou Inês Moreira.

A equipa espera no futuro validar os resultados do estudo numa amostra maior de doentes – a investigação partiu da análise da urina de 16 doentes com cancro da bexiga – para confirmar a utilidade desta molécula de açúcar no diagnóstico da doença, e depois desenvolver um teste de urina que “permita detetar rapidamente os casos mais graves e apoiar os médicos na escolha do tratamento mais adequado”.