
Dados de um estudo coordenado por João Sérgio Neves, investigador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), revelam que a prescrição de fármacos agonistas dos recetores de GLP-1, como o semaglutido, dulaglutido, liraglutido e exenatido, utilizados para tratar a diabetes, registou uma estabilização nos últimos dois anos (2023 e 2024), o que poderá explicar-se com a indisponibilidade nas farmácias. Já a classe dos inibidores da SGLT-2 é cada vez mais prescrita neste contexto.
“Houve essencialmente duas classes de medicamentos que cresceram de forma significativa ao longo dos últimos oito anos: os inibidores da SGLT-2, classe que registou o maior aumento, e os agonistas dos recetores de GLP-1”, explica o investigador, citado pelo site da Universidade do Porto.
Este aumento é “um bom sinal. Os estudos têm demonstrado que, além de controlarem a diabetes, estes fármacos reduzem o risco cardiovascular e renal, incluindo o risco de enfarte, AVC, insuficiência cardíaca e doença renal crónica, mesmo quando a diabetes já está controlada com outra medicação”, explica o docente.
O estudo demonstrou que em 2017, cerca de 3,7% das prescrições eram de inibidores da SGLT-2. Em 2024, esta classe representava já 29,3% do total de antidiabéticos prescritos pelos médicos a nível nacional.
Já no caso dos agonistas de GLP-1, “a prescrição era residual, em 2017, correspondendo a 1% das prescrições de medicamentos para a diabetes. Em 2024, essa percentagem era de 4,9%. Houve um grande crescimento até 2022 e depois, em 2023 e em 2024, houve uma estabilização. Este padrão sugere que a prescrição só não aumentou mais porque houve muita falta de disponibilidade nas farmácias portuguesas”, refere João Sérgio Neves.
O investigador, ainda ao site da Universidade do Porto, sublinha que “ainda há margem para um maior crescimento das prescrições destes antidiabéticos. É provável que um grande número de doentes com alto risco cardíaco e com alto risco renal ainda não estejam a tomar um destes medicamentos, como está indicado”.
Por isso, entende que “as nossas instituições têm de repensar os modelos de acesso, de forma a garantir que todos os doentes com indicação clínica estão a receber estes medicamentos. Há ainda um grande trabalho a fazer. É importante que os doentes que podem ter benefícios com estas novas classes sejam identificados e tratados o mais precocemente possível”.
O grupo de João Sérgio Neves, na FMUP, tem realizado uma série de estudos sobre a utilização destes novos medicamentos, aguardando-se os resultados.




